quinta-feira, 24 de março de 2011

Bandidinhos e bandidões



Quando se experimenta o gosto amargo do ostracismo após um início de carreira promissor, nada como voltar às origens, certo? Se ainda não há como ganhar o mundo, que ao menos se recomece conquistando novamente os velhos fãs. Essa foi a lição que Guy Ritchie parecer ter tirado de seu inferno astral, que começou com a comédia romântica (se é que é possível chamar de comédia) ‘Destino Insólito’ e culminou no fim de seu casamento com a popstar Madonna. Como Roberto Carlos cantando ‘eu voltei...’, o cineasta britânico retorna à cena com ‘RocknRolla -  A Grande Roubada’, mostrando o mesmo cartão de visitas de dez anos atrás.
Ritchie retornou ao velho lar, o submundo de Londres, onde malandros pés-de-chinelo convivem com milionários excêntricos e sem um pingo de escrúpulos. A mesma fauna de ‘Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes’ e ‘Snatch – Porcos e Diamantes’, onde a roubalheira e a violência correm na mesma velocidade que a música pop saída dos alto-falantes. Apenas com algumas contextualizações no tempo, ‘RocknRolla’ descortina o cenário visto em tempos passados, que se deixou a originalidade para trás, não perdeu a diversão.
Quem também ficou para trás foi Jason Statham, ator-fetiche do diretor, que deu lugar a Gerard Butler na condição de pseudogalã sujo/espertalhão/engraçadinho. A história é aquela tradicional miscelânea, em que começam a desfilar na tela inúmeros personagens extravagantes, que só não deixam o espectador com um nó ainda maior na cabeça graças a um narrador em off. A princípio parece tudo muito confuso, mas o roteiro bem tratado e a direção segura de Ritchie fazem com que tudo vá se desenrolando sem maiores traumas.
Em síntese: Butler é o bandidinho One Two, que juntamente com outros colegas, é logrado pelo bandidão Lenny Cole (Tom Wilkilson, mais uma vez ótimo). Este, por sua vez, planeja dar o bolo em um bilionário russo, que, sem saber, é roubado pela própria contadora Stella (Thandie Newton). Quando Stella e One Two se encontram, os interesses se fundem em um plano teoricamente perfeito. Os quatro são apenas o centro da trama, que tem ainda um roqueiro ‘ressuscitado’, o qual entra em cena para justificar o título do filme.
Esse é apenas um resumo preguiçoso de todas as tramoias contidas no roteiro, que somente acompanhando na tela para se ter uma noção da habilidade do cineasta em administrar várias subtramas. A fórmula para conduzir a história é aquela já conhecida, com diálogos cheios de acidez e ironia, o ritmo frenético de imagens e edição, bombados pela trilha sonora pop. Ainda que a quantidade de sangue e cadáveres não seja a mesma das produções anteriores, não faltam sequências de violência estilizada, uma das marcas do diretor.
Outras referências contemporâneas dão um sabor especial a ‘RocknRolla’. Quando se vê o bilionário russo que planeja construir um estádio de futebol, é impossível não pensar em Roman Abramovich, dono do time inglês do Chelsea. Em outra cena hilária, um roqueiro remete imediatamente à figura do problemático doidão Pete Doherty. Enfim, Guy Ritchie nos traz mais do mesmo. Mas, felizmente, é aquele mesmo que nos prende por divertidos 114 minutos.

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