sexta-feira, 25 de março de 2011

A contemplação do universo



Houve uma época não muito distante em que os filmes de ficção científica pareciam despertar mais interesse no público. Talvez porque nessa época um aparelho de bolso que possibilitasse se comunicar por voz e texto, ouvir música, assistir a filmes e tirar fotografias era coisa de outro mundo. Hoje, o futuro parece tão mais previsível e menos misterioso que o cinema perdeu um pouco de seu caráter visionário. De todo modo, há os que não deixam o gênero morrer, sempre tentando dar-lhe um gás novo. Nisso, ninguém melhor do que Danny Boyle, um cinqüentão que insiste em fazer cinema com cara e espírito jovem. Mas, por mais irônico que seja, ‘Sunshine – Alerta Solar’ resulta no seu filme mais adulto.
O escocês Danny Boyle (de ‘Trainspotting’ e ‘Extermínio’) é um dos precursores do ‘cinema de videoclipe’, do qual sete entre dez novos cineastas são adeptos. Ângulos inusitados, montagem ágil, ritmo acelerado e trilha sonora pop para prender a respiração de adolescentes (e tiozinhos também, é verdade) em busca de adrenalina, mas que fazem questão de levar o cérebro para a sala escura. Mas sua incursão ao espaço sideral parece buscar um pouco de tranqüilidade, quebrada somente na parte final de ‘Sunshine’.
Como em 95% dos filmes de ficção científica, ‘Sunshine’ parte de uma premissa negativa. O ano é 2057 e o sol está se apagando, colocando em risco a vida no planeta Terra. A solução é enviar uma missão ao espaço, com a tarefa de arremessar uma bomba contra o astro-rei, que com a explosão será reaquecido, assegurando dessa forma a salvação da humanidade. A primeira missão fracassou. Acompanhamos então a odisseia da segunda nave. É claro que no meio do caminho alguma coisa dá errada e a tripulação vai ter de se virar para completar a tarefa e, se der sorte, sobreviver.
De imediato, as referências são a dois clássicos da ficção científica, ‘2001 – Uma Odisseia no Espaço’, de Stanley Kubrick, e ‘Solaris’, de Andrei Tarkovsky. A exemplo das duas obras, Boyle constrói de início um filme contemplativo e reflexivo, com toques filosóficos. Evoca a solidão do homem no espaço, sua pequenez diante da vastidão de um universo inexplorado, o encanto com uma beleza misteriosa e a incerteza de percorrer um território desconhecido.
Só que, a exemplo da espaçonave e sua tripulação, o diretor também altera sua rota. De repente, estamos envoltos em um clima de suspense, no melhor estilo de ‘Alien – o 8° Passageiro’. É quando a missão de Danny Boyle também começa a perder o rumo, deixando para trás um início promissor para enveredar por alguns clichês, soluções decepcionantes e sequências de ação desnecessárias.
Uma coisa, porém, é inegável: Boyle é um grande construtor de imagens. Além da estética clean de ‘2001’ e o jogo de escuridão de ‘Alien’, o escocês faz do sol um de seus personagens principais (senão o principal), em composições que mereciam ser admiradas em uma tela grande de cinema. Como disse, é seu filme mais adulto, em que ele dá mais tempo para refletir e contemplar. Talvez a necessidade de acelerar as coisas em dado momento seja um sinal dos tempos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário