sexta-feira, 25 de março de 2011

Humor com classe



Não seria exagero dizer que o cinema de comédia vive um momento de crise nos dias atuais. Sinceramente, não me recordo do último filme que conseguiu me arrancar gargalhadas, como nos áureos tempos do Monty Python (grupo inglês que se notabilizou com o humor escrachado) ou da dupla Jim Abrahams e Jerry Zucker (de ‘Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu’ e ‘Corra que a Polícia Vem Aí’). Hoje o gênero está majoritariamente dividido entre execráveis comédias românticas e besteiróis de humor escatológico. Em tempos como esses, assistir a um filme como ‘Sra. Henderson Apresenta’ é um alento.
Trata-se do penúltimo longa do britânico Stephen Frears, cineasta eclético, mas que tem boas experiências no terreno da comédia, como ‘Herói por Acidente’ e ‘Alta Fidelidade’. No caso de ‘Sra. Henderson’, não se trata de nenhum filme que vá fazer o espectador se dobrar de rir, mas é, no mínimo, um filme simpático e divertido. Seu principal mérito está em se aproximar das comédias da primeira metade do século 20, que usam de um humor sutil, por vezes ingênuo e baseado principalmente no carisma de seus atores.
A história, baseada em fatos reais, se passa na Londres da década de 30. Após perder o marido, a milionária Laura Henderson (Judi Dench) encontra uma alternativa para acabar com o tédio: compra um teatro abandonado, decide reformá-lo e colocá-lo de volta à ativa. Sem qualquer experiência no ramo das artes, contrata o produtor Vivian Van Damm (Bob Hoskins) para comandar a programação. Apesar de não se bicarem, os dois conseguem resultados satisfatórios, mas por pouco tempo. Decidem então apostar em uma proposta ousada: montar espetáculos com mulheres completamente nuas. A ideia vinga, mas também acentua o conflito entre os dois personagens principais.
É esse conflito que garante um charme todo especial a ‘Sra. Henderson Apresenta’. Frears conseguiu colocar frente a frente dois atores excepcionais, trabalhando em perfeita sintonia, sem ofuscar um o trabalho do outro. Judi Dench, presença constante nas listas do Oscar (inclusive por este trabalho), consegue arrancar risos com não mais que três palavras. Bob Hoskins, por sua vez, comprova que tem talento para conquistar muito mais papéis de destaque do que vem colecionando.
A relação entre os dois, de amizade e destempero, carinho e rabugice, faz lembrar as comédias do saudoso Billy Wilder, que conseguia criar situações cômicas usando apenas da química entre seus personagens, sem apelar para o humor grosseiro. Frears consegue isso por meio de diálogos inteligentes, que não deixam entediar o espectador e tiram risos dos episódios mais inusitados. E mesmo quando aborda a crise provocada no meio artístico pela Segunda Guerra Mundial, não deixa que a trama perca o rumo e caia no melodrama.
Além dos atores e do roteiro, é preciso destacar a produção técnica impecável de ‘Sra. Henderson’. Os figurinos e a direção de arte são primorosos, reconstituindo de maneira impressionante os cenários da época. Há vários números musicais, mas que são tão bem conduzidos e inseridos na história que não deixam a produção ganhar aquela característica aborrecedora de filme musical. Se não é para morrer de rir, pelo menos garante aquele sorriso de satisfação após a sessão.

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