sábado, 12 de março de 2011

Uma ode ao velho jornalismo

Há um estranho clima de nostalgia onipresente do primeiro minuto aos créditos finais de ‘Intrigas de Estado’. Algo como uma saudade daquilo que ainda não se foi, mas sobrevive combalido, à sombra da tecnologia que atropela nossos conceitos sem que possamos nos dar conta. Essa espécie em extinção é o repórter investigativo dos grandes jornais impressos, o sujeito que se debruça durante dias sobre um furo de reportagem até ver todo seu empenho impresso no papel. O conflito com a internet, sua informação cada vez mais rápida e sucinta, coloca um tempero às vezes amargo nessa história que, em tempos passados, apenas ensejava deslumbrar o espectador.
Na era da informação cibernética, o veterano Cal McAffrey (Russel Crowe) é aquele estereótipo do jornalista à moda antiga: um pouco desleixado, sem luxo, certa dose de malandragem e todas as fontes na mão. Já gozando de um status de lenda, sua tarefa é apurar o assassinato de um rapaz em circunstâncias nebulosas. Seu contraponto é a jovem Della Frye (Rachel McAdams), cuja responsabilidade é levar o quanto antes ao público novas informações sobre o meio político através de seu blog.
O elo entre os dois é o congressista Stephen Collins (Ben Affleck), amigo particular de McAffrey e alvo da próxima apuração de Della. A morte de uma assessora do político traz à tona um caso extraconjugal entre ambos, que rapidamente se torna um escândalo midiático. À medida em que os dois jornalistas avançam em seus trabalhos, descobrem que os casos que estão investigando estão diretamente ligados entre si. A partir daí, é aquela conhecida rotina de correria e reviravoltas das tramas de suspense.
O jornalismo investigativo já rendeu filmes bastante conhecidos do grande público, como ‘Todos os Homens do Presidente’, ‘Ausência de Malícia’ e, mais recentemente, ‘Frost/Nixon’. Neles, a figura do jornalista ganha contornos de herói, o sujeito que desafia os poderosos para revelar ao mundo a podridão dos bastidores. Em ‘Intrigas de Estado’, o diretor Kevin McDonald quis resgatar a aura desse personagem, mas tinha ciência de que seu patamar já não é mais tão elevado. Além do conflito corporativista/ideológico, Cal McAffrey precisa enfrentar uma crise de informação.
O jornal para o qual trabalha está na penúria, assim como a realidade de muitos dos principais jornais impressos norte-americanos. O inimigo mais visível mora ao lado, ou pior, está dentro de casa. A jovem blogueira com quem é obrigada a trabalhar personifica a demanda dos leitores por informação fresca, dinâmica e de fácil acesso. O diretor usa de um tratamento positivo, colocando seu herói sempre em situação de domínio, mas no fim deixa uma sensação de que seus dias estão contados.
‘Intrigas de Estado’ termina com a clássica imagem das rotativas imprimindo o jornal, algo que ainda pode ser considerado como um símbolo do triunfo da informação. Talvez esse conceito ainda perdure ou logo passe a fazer parte da história. Se o desfecho continuar sendo o dos filmes, de que a verdade sempre vence, já estará de bom tamanho.

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