sábado, 26 de março de 2011

Woody Allen caliente



Todo ano é a mesma coisa: surge um filme de Woody Allen nas telas e os críticos se dividem. Os mais conservadores, que ainda nutrem a esperança de ver repetidos seus momentos geniais de três décadas atrás, torcem o nariz e dizem que o velho cineasta já não é mais o mesmo. Aqueles mais compreensivos amenizam, dizendo que, apesar de estar aquém de seus melhores momentos, o diretor ainda mantém-se muito acima da média geral. E há aqueles, dentre os quais me incluo, para quem Woody Allen será sempre Woody Allen. Esteja ele em melhor ou pior forma, assistir a seus filmes é inevitavelmente um prazer diferenciado. Que o diga, mais uma vez, ‘Vicky Cristina Barcelona’.
Quem é apaixonado por cinema não tem como não se render ao talento de Allen e sua capacidade de contar, com aguçada inteligência, histórias cotidianas. Para um cineasta que mantém uma proficuidade rara nos dias atuais (pelo menos um filme por ano), conseguir nos brindar com produções que estão acima do conceito ‘bom’ é digno de mérito. Por isso que sempre tenho um pouco mais de paciência e dou um desconto aos eventuais deslizes do diretor. ‘Vicky Cristina Barcelona’ não é notável, tem suas falhas, mas mesmo assim vale mais a pena do que qualquer comédia que esteja em cartaz atualmente nos cinemas.
Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson) são duas amigas americanas que passam o verão em Barcelona. As duas têm personalidades completamente opostas: enquanto Vicky gosta de andar na linha e ter todos seus passos cuidadosamente planejados, Cristina é instável e disposta a se jogar de braços abertos ao destino. Destino esse que as coloca frente a frente com Juan Antonio (Javier Bardem), sedutor pintor espanhol que as convence a passar um romântico final de semana a três.
Inicialmente, Cristina se deixa seduzir e Vicky se mantém resistente. Algumas circunstâncias, porém, fazem com que os papéis se invertam e Vicky acabe passando uma noite com Juan. No dia seguinte, tudo volta ao curso normal. Vicky retoma sua vida e Cristina inicia um relacionamento com o espanhol. Até que entra em cena Maria Elena (Penélope Cruz, vencedora do Oscar de atriz coadjuvante pelo papel), a temperamental ex-mulher de Juan, que coloca fogo na história e dá origem a um novo triângulo amoroso.
Relacionamentos humanos e amorosos são a principal matéria-prima de Woody Allen. Como em grande parte das obras que fazem parte de sua trajetória, há amores impossíveis, arrependimento, desilusão, paixões avassaladoras e amores incompreendidos. Dessa vez, porém, sem o tom de amargura que permeava seu filme anterior, o sombrio ‘O Sonho de Cassandra’. No clima colorido, musical e ensolarado da Espanha, o diretor destila seu bom humor com uma desenvoltura não vista há um bom tempo.
Bonito e talentoso, o quarteto de protagonistas faz de ‘Vicky Cristina Barcelona’ uma obra refinada, a ser degustada com os olhos, ouvidos e coração. Tem seus altos e baixos, como toda a produção recente de Woody Allen, mas os bons momentos acabam tendo peso diferenciado na balança. Talvez seja isso que ainda nos move a alimentar constantemente a expectativa pelo seu próximo filme.

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