quinta-feira, 17 de março de 2011

Encanto inevitável


De tudo que li e ouvi, cheguei a uma conclusão inequívoca: é impossível alguém não ter se encantado ou ao menos se divertido com ‘Juno’. Sim, estamos falando da grande surpresa da temporada cinematográfica do ano passado, um filme modesto, de baixo orçamento, que de repente conquistou público, crítica e só não se consagrou no Oscar porque tinha uma concorrência de peso. Logo, não sou eu que vou aqui fugir do senso comum e depreciar esse filme tão simpático, divertido e inteligente.
‘Juno’ é o segundo filme da carreira do jovem Jason Reitman, filho do também cineasta Ivan Reitman, célebre na década de 80 pelo megassucesso ‘Os Caça-Fantasmas’. Do pai, Jason herdou a verve para o humor, conforme já havia demonstrado com muita categoria no ótimo ‘Obrigado por Fumar’. Não aquele humor escrachado, mas um riso mais cínico, irônico, típico de quem gosta de fazer rir sem deixar de pensar, colocando um ponto de interrogação após cada gargalhada.
Para quem ainda não conhece Juno (Ellen Page), ela é uma adolescente de 16 anos que engravida sem querer. O pai é um garoto da mesma idade que não demonstra o menor preparo para enfrentar a paternidade. Ela bem que tenta fazer um aborto, mas não cria coragem para ir em frente. Sua decisão então é levar a gravidez adiante e buscar um casal para adotar a criança. Em meio a dilemas particulares, divergências familiares e os olhares reprovadores da sociedade, a jovem vai vivenciando as agruras de ser uma mãe precoce.
De fato, é impossível não se encantar com Juno, a personagem vivificada por Ellen Page. Inteligente, decidida, bem-humorada e dona de algumas tiradas geniais, ela é responsável pelo brilho intenso do filme. Suas ideias sobre a gravidez, a condição masculina, a vida adolescente e a música rendem momentos extremamente divertidos e inquietantes. Essa condição fez com que sua personagem fosse saudada por muitas adolescentes mundo afora, cansadas da tipificação fútil em grande parte das produções norte-americanas.
Se Ellen Page é a alma do filme, isso se deve também ao brilhante roteiro da ex-stripper Diablo Cody, premiada com o Oscar da categoria. O que nada mais é do que uma sucessão de diálogos sagazes construídos sobre personagens aparentemente comuns e situações cotidianas. Simples, não? Pois é nessas horas que se vê quem faz a diferença, quem é capaz de transformar água em vinho. O corpo que ganha uma ideia tão simples faz com que o espectador nem se dê conta de tamanha simplicidade.
Como toda boa orquestra precisa de um bom maestro, o resultado final só é possível graças à direção segura de Reitman, que conduz a história com humor e ternura na medida certa, fazendo rir e se emocionar nos devidos momentos. O segredo de ‘Juno’ talvez esteja em sua franqueza, simplicidade e a capacidade de dialogar com públicos de diferentes idades e gostos. Uma prova de que o cinema não precisa de grandes truques, pirotecnia ou pseudo-intelectualismo para conquistar gregos e troianos. Apenas um pouco de inteligência e honestidade.

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