sábado, 26 de março de 2011

O peculiar mundo de Wes Anderson



Existe uma geração de jovens cineastas que, mesmo novos e com um currículo pequeno, carregam consigo um estilo próprio. São capazes de imprimir uma marca pessoal em seus filmes, ainda que estes sejam produzidos por grandes estúdios, com dinheiro do voraz mercado hollywoodiano. Para ficar apenas na seara norte-americana, posso citar Paul Thomas Anderson, Sofia Copolla e Wes Anderson. Dos três, talvez o último seja o mais excêntrico e, por isso, consiga arrebanhar uma quantidade menor de fãs, porém, mais apaixonados. E pergunto eu: como é possível não se apaixonar por um filme como ‘Viagem a Darjeeling’?
Quando falo em excentricidade, não pense naquele cinema cabeçudo, cheio de virtuosismos, personagens complexos e histórias pouco explicáveis. Wes Anderson tem seus vícios, mas são sutis, feitos menos para impressionar do que para tentar comover e agarrar o espectador pelo coração. É cinema de uma estranheza peculiar, que não chega a ser palatável para as grandes massas, mas também não é direcionado exclusivamente para um nicho cinéfilo.
O diretor é conhecido do público brasileiro por três filmes: ‘Três é Demais’, uma história de amor improvável; ‘Os Excêntricos Tenembauns’, uma saga de reconciliação familiar; e ‘A Vida Marinha com Steve Zissou’, misto de aventura exótica, comédia de erros e melodrama. Todas histórias contadas de uma maneira peculiar, com humor sutil, pitadas de melancolia, trilha sonora pop e apuro visual. ‘Viagem a Darjeeling’ não apresenta nada de novo em relação a essas características, mas traz consigo um pouco de cada uma das produções anteriores.
Darjeeling é uma cidade na Índia. A viagem é protagonizada por três irmãos que não se veem há um ano, desde a morte do pai. Francis (Owen Wilson), o mais controlador, se recupera de um grave acidente; Peter (Adrien Brody), o mais misterioso, está prestes a ser pai; e Jack (Jason Schwartzman), o mais novo, vive um relacionamento frustrado. Naquilo que classificam como uma viagem espiritual, os três embarcam em um trem onde irão rever suas diferenças, seu passado e o presente mal-resolvido.
Por se tratar de Wes Anderson, que não se espere um road movie convencional, um drama existencial onde tudo vai se resolvendo facilmente à medida que o tempo e o percurso avançam. Como de costume, seus personagens são disfuncionais, mas de uma disfuncionalidade difícil de resolver. Assim como os três irmãos, que veem seus planos de uma viagem previsível se frustrarem aos poucos, o espectador também vai sendo surpreendido por um roteiro que não se deixa levar pelo rumo convencional.
‘Viagem a Darjeeling’ talvez seja o filme menos bem humorado e mais melancólico do cineasta. O que não significa que seja depressivo ou excessivamente sério. O colorido que marca as imagens do início ao fim parece insistir em dar mais vida a personagens que carregam uma expressão de tristeza quase permanente. Assim é o cinema único de Wes Anderson, em que desolação e frustração convivem em plena harmonia com pujança e esperança.

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