sábado, 26 de março de 2011

No mundo dos desajustados



Reza a cartilha do apreciador do bom cinema que é recomendável manter distância de títulos que contenham expressões como ‘muito louco’, ‘da pesada’ ou ‘do barulho’. Mas como distribuidores brasileiros gostam de exercitar sua criatividade de maneira grotesca, vez ou outra abre-se espaço para algumas exceções. Logo, ao ver na videolocadora o título ‘Uma Escola de Arte Muito Louca’, pense duas vezes, pois não se trata de nenhuma comédia adolescente recheada de humor escatológico e piadas de sacanagem. Você pode ter uma agradável surpresa.
Primeiro de tudo, observe os créditos. Quem dirige ‘Art School Confidential’ (título original que faz um trocadilho com filmes policiais) é Terry Zwigoff, responsável pelos ótimos ‘Ghost World’ e ‘Papai Noel às Avessas’. Quem assistiu às duas produções já tem uma idéia do que esperar: humor inteligente, ácido, fundamentado em personagens que não conseguem se enquadrar nos padrões de uma sociedade, digamos, ‘normal’.
O desajustado da vez é Jerome Platz (Max Minghella), jovem que ingressa em uma faculdade de artes com o sonho de se tornar um famoso artista plástico. Talentoso, porém tímido, acanhado e atabalhoado, se apaixona por uma bela garota, Audrey (Sophia Myles). Quando tudo parece estar avançando bem, surge em seu caminho Jonah (Matt Keeslar), um bonitão por quem sua musa começa a cair de amores. A partir daí Jerome mergulha numa tentativa ensandecida de reconquistar sua garota, numa competição sentimental e artística com seu adversário.
Diferente do que o infeliz título faz supor, ‘Uma Escola de Arte Muito Louca’ não é daqueles filmes para arrancar gargalhadas do espectador (ou pelo menos tentar). Os melhores momentos de humor ficam por conta da sátira ao mundo das artes, com seus egos inflados, pretensos gênios e conceitos ininteligíveis. Nesse ponto, funciona muito bem como comédia, usando de tiradas inteligentes e sutis, sem a necessidade de apelar para o riso fácil através de piadas grosseiras.
Mas em meio a todo esse humor, diretor e roteirista exploram as angústias de um personagem infeliz, um genuíno ‘loser’. No melhor estilo Charlie Brown, é aquele cara que, quanto mais se esforça para se dar bem, mais sofre com a frustração de ver seus sonhos estraçalhados. E no tratamento desse tipo de personagem, Zwigoff é muito bom. O cineasta lança sobre ele um olhar de pena, desesperançoso, mas que ainda acredita no dia da vingança. O mundo em que habita é cruel, mas sempre há espaço para ir à forra. Até porque a dúvida fica no ar: na verdade, quem são os verdadeiros desajustados desse mundo?
Com um elenco formado por nomes desconhecidos, ainda há espaço para as participações de John Malkovich e Anjelica Huston, dando apenas um toque de classe em papéis menores, mas não menos charmosos. Apesar de alguns furos, o roteiro conduz a história de maneira leve e envolvente. Quanto à referência aos filmes policiais do título original, ficará clara no desfecho, que, obviamente, não cabe adiantar aqui. Se você, de alguma maneira, sente que esse mundo não é bem o seu lugar, a diversão será redobrada.

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