sexta-feira, 18 de março de 2011

Muita ação, pouco roteiro



Quando o assunto é avaliar filmes, só existe uma categoria mais chata do que nós cinéfilos: fãs de quadrinhos. Para eles, não basta apenas que o filme seja bom, é necessário estar em sintonia com a história original, respeitar os personagens e ao menos compreender as ideias que se passam na cabeça dos autores. Nada mais justo, concordo. O que não consigo entender é como esses fãs desmereceram o ótimo ‘Hulk’ de 2003, dirigido por Ang Lee, e saudaram ‘O Incrível Hulk’ deste ano, que ao menos como cinema, é muito inferior ao primeiro.
Para quem não se recorda, o ‘Hulk’ de 2003 tinha a missão de mostrar as origens do herói que, após uma experiência com raios gama, se transforma em uma criatura verde e superpoderosa quando fica nervoso. O filme recebeu críticas por ser considerado demasiadamente artístico, demorar para exibir o personagem na sua conhecida forma e concentrar a história em seus dramas psicológicos, em detrimento das cenas de ação.
Pois bem. O novo ‘Incrível Hulk’ veio para corrigir todos esses ‘problemas’. Para a direção trouxe o novato Louis Leterrier, cujo título mais conhecido é o filme de ação ‘Cão de Briga’. A fim de não ser interpretado como uma continuação da obra de Lee, foi escalado um elenco completamente novo, encabeçado pelo competente Edward Norton no papel-título, tendo a seu lado William Hurt (general Ross), Liv Tyler (Betty Ross) e Tim Roth (o soldado Blonsky, que irá se transformar no primeiro inimigo de Hulk).
Sem perda de tempo, a origem do personagem é rememorada rapidamente na seqüência de abertura, junto aos créditos. Quando o filme começa propriamente, temos Bruce Banner escondido em uma favela do Rio de Janeiro, onde faz experiências para tentar controlar seus poderes. Ele também trabalha em uma fábrica de refrigerantes, onde as pessoas falam um português esquisito, com um sotaque hilário. Não tarda até que o general Ross o localize e mande uma equipe para capturá-lo. Após sua primeira transformação em Hulk, Bruce reinicia sua fuga, reencontrando sua amada, a cientista Betty Ross, e partindo em busca da cura para sua mutação.
Um ponto positivo em relação ao ‘Hulk’ anterior é que o personagem parece menos computadorizado. Após o tradicional suspense da primeira transformação, escamoteada pelo uso da escuridão, nota-se que o herói ganhou formas mais definidas. Porém, o que sobra em efeitos especiais falta em roteiro. A história se resume a uma seqüência de perseguições e batalhas, sem nenhum elemento agregador e com algumas referências mais que batidas a obras como ‘A Bela e a Fera’, ‘Frankenstein’ ou ‘King Kong’. Em alguns momentos, chega a ser entediante.
De todo modo, ‘O Incrível Hulk’ teve o aval de muitos fãs e a assinatura dos estúdios Marvel, já responsáveis pelo divertidíssimo ‘Homem de Ferro’. A propósito, há um link permanente com o outro herói, que se revela ao final, dando margem para uma seqüência. Também como curiosidade, há a participação de Lou Ferrigno, que se notabilizou como o Hulk das produções dos anos 70. De minha parte, sigo com a opinião de que, se os fãs ganharam, o cinema perdeu bastante.

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