quinta-feira, 24 de março de 2011

Cartas na mesa (e na tela)



Em um país que tem uma cidade inteira voltada para a jogatina, filmes sobre cassinos e jogos de carta não têm dificuldade para se popularizarem. No Brasil, como as casas de jogos são proibidas há muito tempo, esse tipo de filme não exerce o mesmo fascínio sobre os espectadores. A menos que tenha uma história muito interessante e envolvente embalando a distribuição das cartas. Considerando se tratar de um filme em que a trama está diretamente relacionada às regras de um jogo em particular, ‘Quebrando a Banca’ até que consegue se sair bem entre nós, proporcionando ao menos algumas horas de diversão sem compromisso.
O filme se baseia em uma história real, contada no livro homônimo de Bez Mezrich, que ao menos na tela se mostra um tanto inverossímil. De todo modo, não custa embarcar na aventura de um grupo de nerds que, comandados por um professor (o sempre eficiente Kevin Spacey), forma um time para jogar e ganhar rios de dinheiro em Las Vegas. Craques em números, os jovens usam a estratégia de contar as cartas no jogo mais popular dos cassinos norte-americanos, o 21.
A trama está centrada em Ben Campbell (Jim Sturgess), um gênio precoce que busca meios para custear uma faculdade de Medicina na famosa Universidade de Harvard. Sua trajetória é aquela já imaginada: a princípio reluta em aceitar o convite para integrar o grupo de jogadores, mas após ceder e ver que a coisa funciona, passa a cair nas tentações da vida mundana e do dinheiro fácil. Claro, há uma garota com a qual o jovem se envolve e o perigo iminente, personificado pelo agente de segurança (Laurence Fishburne), atento para acabar com a farra dos espertalhões que tiram dinheiro dos cassinos.
Como se percebe, a fórmula é a mais previsível imaginável, seguindo a tradicional cartilha hollywoodiana de ascensão, queda e uma pequena reviravolta redentora final. Em termos estéticos, o diretor Robert Luketic (de comédias bobagentas como ‘Legalmente Loira’ e ‘A Sogra’) também não apresenta nada de novo, ficando no feijão com arroz dos filhotes da publicidade. Apesar de tudo isso, ‘Quebrando a Banca’ consegue divertir, graças ao ritmo ágil e a direção correta, que conduz de maneira sincera e sem firulas um roteiro leve.
Em meio a um elenco jovem e sem nenhum destaque, cabe mais uma vez ao veterano Kevin Spacey roubar a cena. Seu professor Micky Rosa é mais um daqueles personagens ambíguos de sua galeria, aquele cara que a princípio se mostra um sujeito gente boa, mas que aos poucos, sem apelação, vai deixando entrever um caráter duvidoso. Em contrapartida, o outro competente veterano do elenco parece ter sido colocado de castigo pelo diretor. Imerso em clichês, o segurança vivido por Laurence Fishburne entra e sai da história como aquele funcionário burocrata que está ali apenas batendo cartão.
Acredito que quem conhece o tal do 21 (o que não é o meu caso) e aprecia jogos de cartas é capaz de se divertir mais com ‘Quebrando a Banca’. Isso não significa, porém, que os demais não possam apreciá-lo com gosto. Entrar no jogo não é difícil, desde que você queira apenas descontrair e não levar a experiência a sério.

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