sábado, 26 de março de 2011

Bem mais do mesmo



Tão velha quanto manjada é aquela frase de que ‘não se mexe em time que está ganhando’. Desde que ‘Tropa de Elite’ se tornou não apenas um sucesso de bilheteria, mas um fenômeno cultural, sua sequência era apenas uma questão de tempo. E se público e crítica haviam dado suas bênçãos, por que mudar a fórmula? Em ‘Tropa de Elite 2’, que, como esperado, vem tendo desempenho extraordinário nos cinemas (e nos camelôs também), o time inicial não apenas foi mantido, como foi reforçado. Mais do que indicar um novo episódio, o número 2 do título parece evidenciar uma carga adicional: ação, violência, polêmica, crítica social, agora em dobro.
O primeiro ‘Tropa de Elite’ podia ser avaliado sob dois aspectos. Primeiramente como filme de ação, um gênero com o qual o Brasil nunca teve muita familiaridade, mas que via ali um exemplar à altura das melhores produções. Técnica e narrativamente impecável. O segundo aspecto foi, digamos, de caráter. Sobraram ao diretor José Padilha acusações de radical e fascista, por usar da violência para defender teses como a de que o usuário financia o tráfico de drogas e, por extensão, a criminalidade. ‘Tropa de Elite 2’ segue exatamente na mesma trilha.
Em um estranho sobressalto de tempo, a ação se passa anos depois do primeiro filme. Ex-capitão, Nascimento (Wagner Moura) agora é tenente coronel, que acaba deixando o Bope após uma desencontrada ação em um presídio. Promovido à subsecretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, o policial deixa o campo de batalha para se adaptar à função burocrática. Se antes o inimigo a ser batido eram os traficantes, agora a coisa é bem maior: estão na alça de mira policiais corruptos, milícias armadas e até políticos de renome.
Todos os elementos que fizeram o sucesso do primeiro ‘Tropa de Elite’ estão lá: a ação vertiginosa, os personagens inescrupulosos, doses de humor negro e a violência desmedida. Dessa vez, contudo, o diretor resolveu maximizar suas argumentações. Deixou a favela e o submundo da polícia para invadir os gabinetes dos burocratas. Criou o ativista Diogo Fraga (Irandhir Santos), personagem-chave no contraponto entre uso da força e justiça social.
Se como filme de ação ‘Tropa de Elite 2’ funciona como um relógio, não há como deixar de sentir um certo incômodo na postura manipuladora de seu diretor. Em alguns momentos Padilha evidencia sintomas de Michael Moore, lançando mão de todas as artimanhas possíveis para convencer o espectador a pensar como ele. Nem que para isso instigue a agressividade, como o momento em que Nascimento surra um político corrupto, para deleite da plateia. 
Entre erros e acertos, Padilha teve méritos ao criar novas nuances e evitar que ‘Tropa de Elite 2’ fosse uma mera repetição do primeiro. Ainda que não seja raro experimentar a sensação de déja vu durante a projeção, o cineasta conseguiu criar um filme com vida própria: controverso, vibrante e extremamente bem-feito, vem para quebrar um pouco da monotonia da atual produção nacional.

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