
Parece estar surgindo um novo subgênero entre os filmes de suspense: o de espionagem corporativa. Um sinal dos tempos. Se no passado o mote para histórias mirabolantes era a Guerra Fria e a disputa entre nações pelo poder no mundo, o século 21 parece já ter seu novo bode expiatório. O mais recente vilão da humanidade são as grandes corporações, que não ligam para escrúpulos e estendem seus tentáculos pelo planeta em busca de dividendos. Como exemplares dessa tendência podemos citar ‘Conduta de Risco’, ‘Duplicidade’ e, mais recentemente, ‘Trama Internacional’.
O título em português é uma alusão evidente a Hitchcock, tendo menos a ver com ‘Trama Macabra’ do que com ‘Intriga Internacional’, esse sim um clássico do cinema de espionagem. E não restam dúvidas de que o diretor de ‘Trama Internacional’, o alemão Tom Tikwer, bebe nessa fonte. A trama conspiratória, pontuada por assassinatos misteriosos e tensas perseguições até lembra o velho mestre, mas guardadas as devidas proporções, evidentemente.
A sequência inicial é típica do gênero. Dentro de um carro, dois homens conversam sobre segredos que parecem ser devastadores. O clima é tenso e o espectador tem a sensação de que algo não acabará bem. Um dos homens deixa o veículo, conversa com alguém ao celular, comemorando o resultado do encontro e, logo em seguida, cai morto no chão. É o preâmbulo clássico de uma história que envolve gente importante, perigosa e deverá contabilizar mais alguns cadáveres.
A cena é assistida pelo agente da Interpol Louis Salinger (Clive Owen, que já está virando figurinha carimbada), que acompanhava o parceiro na investigação sobre as operações de um grande banco. O trabalho é realizado em parceria com a promotora Eleanor Whitman (Naomi Watts), que também desconfia que nesse mato tem coelho. A partir da morte do colega, a dupla mergulha em uma trama que envolve financiamento de armas nucleares, negócios escusos com diversos países e, claro, mortes igualmente suspeitas.
O diretor Tom Tikwer ganhou o mundo com ‘Corra Lola, Corra’, que se tornou uma espécie de clássico dos modernetes, com sua narrativa não usual e o ritmo de videoclipe. Depois disso o cineasta ficou um tanto sumido e, entre um filme e outro sem muita repercussão, voltou à cena no Festival de Cannes do ano passado, quando ‘Trama Internacional’ abriu a mostra. Os olhos do público e da mídia, no entanto, estavam muito mais focados no contexto da produção, que tratava de crimes financeiros em plena crise econômica mundial, do que em seus critérios cinematográficos.
É inegável que o alemão amadureceu e que seu novo filme em quase nada lembra a pirotecnia de Lola. Há quem reclame que o roteiro subaproveita os personagens e que a trama intricada se dissolve em adrenalina. Talvez porque esses críticos esperassem alguma discussão mais aprofundada ou um nó mais forte na cabeça do espectador. Como boa diversão, ‘Trama Internacional’ não deixa a desejar. E, de quebra, traz uma das melhores sequências de tiroteio do ano, passada no Museu Guggenheim, em Manhattan. Já basta.
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