sábado, 19 de março de 2011

Dramático sem ser apelativo



Quando se anunciou que a história de Daniel Pearl, jornalista americano assassinado por um grupo terrorista no Paquistão em 2002, iria virar filme, minha expectativa não foi das melhores. Não raro, produções relacionadas a essa temática costumam se configurar em dramalhões chorosos e/ou ufanistas, com discursos politicamente corretos e blábláblá. Mas quando se falou que o diretor encarregado dessa missão seria o inglês Michael Winterbottom, as coisas mudaram de figura. Dele pode-se esperar tudo menos o convencional. Não foi para tanto, mas ‘O Preço da Coragem’ (apesar do título brasileiro perfeito para um Supercine água com açúcar) tem lá seus méritos.
Winterbottom é alguém que parece pertencer a uma ala indefinida no cinema atual. Não faz parte do mainstream, mas também está longe de ser considerado ‘maldito’. Chamariz em festivais de cinema mundo afora, consegue ter um público que não é tão amplo, mas vai além do clube de seguidores fiéis. Fruto de uma carreira pouco linear em termos de temática, que inclui o quase pop ‘A Festa Nunca Termina’, o pornô-musical ‘Nove Canções’ e os semidocumentais ‘Neste Mundo’ e ‘Caminho para Guantánamo’.
‘O Preço da Coragem’ é baseado no livro ‘Coração Valoroso - A Vida e Morte de Meu Marido Daniel Pearl’, escrito pela viúva do jornalista, Marianne Pearl. Também jornalista, ela relata os dias de angústia vividos do momento em que seu marido saiu para fazer uma misteriosa entrevista com um sheik e não retornou, até receber a notícia de que ele havia sido decapitado em frente a uma câmera de vídeo. O episódio chocou e causou uma onda de comoção em todo o mundo.
Vindo de um cineasta como Michael Winterbottom, surpreendeu a escolha de Angelina Jolie, uma das atrizes mais populares e bem pagas da atualidade para viver Marianne. Talvez porque o marido Brad Pitt seja um dos produtores do filme, mas não importa. Com os cabelos escuros e encaracolados, a bela se sai bem, vivendo com personalidade uma personagem que surpreende por sua força. Grávida de cinco meses, envolta em um drama terrível em um país estranho, ela não mede esforços nem perde as esperanças de reencontrar seu marido vivo.
Ao invés de impor um drama arrastado, como seria de se esperar, o diretor conduz a história em um ritmo bastante ágil, cuja edição chega a lembrar a de Paul Greengrass nos alucinantes ‘Voo United 93’ e ‘O Ultimato Bourne’. Alternando um clima permanente de tensão com momentos um pouco piegas, o filme jamais escorrega para o melodrama fácil e choroso. Mesmo na cena mais pesada, quando Marianne recebe a notícia de que perdeu o marido, Winterbottom não cede à tentação de criar uma situação apelativa e mantém o tom de sobriedade.
Na irregular carreira do cineasta, ‘O Preço da Coragem’ é certamente o filme que mais se distancia de sua verve experimental, se aproximando do circuito das grandes produções. É mais convencional, menos ousado e chocante. O que não significa desinteressante. Quando se pensa no que resultaria a história nas mãos de um diretor hollywoodiano qualquer, o saldo é bastante positivo.

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