sábado, 19 de março de 2011

Policial à moda antiga



“Fazer filmes, para mim, quer dizer, em primeiro lugar e acima de tudo, contar uma história. Essa história pode ser inverossímil mas nunca deve ser banal”, já dizia Alfred Hitchcock, um dos maiores gênios da história do cinema. Na maioria das vezes, saber contar uma história é o que faz a diferença entre os bons cineastas e os medíocres. ‘O Plano Perfeito’ poderia ser mais um entre milhares de filmes esquecíveis, com uma história banal. Poderia, se seu diretor não se chamasse Spike Lee.
Lee é talvez o maior dos cineastas subestimados de Hollywood. Desde que surgiu para o mundo em 1989 com o polêmico 'Faça a Coisa Certa', o diretor vem se dividindo entre os grandes estúdios e produções independentes, com um olhar que abrange tanto o engajamento político e conflitos raciais quanto a sensibilidade e simplicidade humanas. Disso resultaram pequenas joias como 'O Verão de Sam' e 'A Última Noite', obras brilhantes, porém menosprezadas pelo grande público e relegadas pela crítica.
'O Plano Perfeito' é seu filme mais comercial até aqui. Com um orçamento polpudo e atores de ponta à sua disposição, Spike Lee resolveu se aventurar em uma grande produção do gênero policial. A premissa é daquelas já manjadas no cinema hollywoodiano: um assalto milionário, um policial experiente e astuto versus um bandido frio e calculista (até o estereótipo já virou chavão). Nas mãos de um picareta qualquer, tinha tudo para se tornar uma bomba. Mas Lee mostra que, com uma câmera na mão e um roteiro inteligente, sabe muito bem contar uma história. E que história.
Em linhas gerais, a trama é a seguinte: em plena luz do dia, uma quadrilha invade um grande banco no coração de Nova York, fazendo funcionários e clientes como reféns. Tudo muito bem planejado, como anuncia o título em português do filme. O policial Keith Frazier (Denzel Washington) assume as negociações com o líder do bando, Dalton Russel (Clive Owen). Não demora muito para o policial perceber que tem um adversário e tanto pela frente, bem mais inteligente do que ele imaginava. Até porque os bandidos querem algo mais que dinheiro. É aí que entra a terceira personagem-chave da história, Madeline White (Jodie Foster), uma espécie de negociadora profissional com a missão de evitar que um grande segredo venha à tona.
Esqueça os tiroteios, explosões e perseguições automobilísticas. 'O Plano Perfeito' é um thriller à moda antiga, daqueles para serem saboreados à medida em que a história vai se desenrolando, as reviravoltas vão acontecendo e as dúvidas vão se acumulando na cabeça do espectador. Ao intercalar passado e presente, o diretor constrói uma narrativa instigante, que prioriza a tensão psicológica à ação frenética.
A habilidade de Spike Lee em lidar com as emoções humanas, associada ao talento de Denzel Washington e Clive Owen, faz do tradicional duelo entre mocinho e bandido o ponto alto do filme. Mais do que o enfrentamento pela lei, os dois vivem um envolvente duelo de egos, numa disputa que fica acima do conceito básico do bem e do mal. Acrescente-se a habitual destreza do cineasta com a câmera, que faz do cenário um personagem à parte, e a vibrante trilha sonora. Pronto. Eis uma lição de como se conta uma boa história na tela grande.

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