sexta-feira, 18 de março de 2011

Crescendo e (não) aprendendo



Não é qualquer um que aprecia o cinema de Kevin Smith. Seu humor corrosivo, mezzo adolescente, mezzo cínico, faz com que muitos torçam o nariz, enquanto outros fieis seguidores o idolatrem. De minha parte, confesso que recentemente passei a sentir uma atração meio inexplicável por seus filmes. Talvez porque por trás de uma aparente boçalidade, seus roteiros têm uma certa acidez que o diferencia dos besteróis da vida. Acredito que foi isso que fez com que eu visse com extrema simpatia ‘O Balconista 2’, continuação daquele que já é considerado um dos clássicos do cinema independente da década de 90.
Lançado em 1994, ‘O Balconista’ foi rodado com pouquíssimos recursos, tanto técnicos como narrativos. Em um cenário preto-e-branco, se limitava a mostrar dois balconistas de uma pequena loja falando bobagens entre eles e com uma fileira de tipos estranhos que freqüentava o local. Saudado como um grande exercício de criatividade, serviu para catapultar o diretor ao mainstream e lançar sua galeria de personagens, ‘adultescentes’ desocupados e sem rumo na vida. Os mais célebres são a impagável dupla de traficantes Jay e Silent Bob (este último vivido pelo próprio diretor).
‘O Balconista 2’ retoma a história 12 anos depois. Agora com cores porque o mundo de Dante e Randal mudou. A lojinha na qual trabalhavam foi destruída por um incêndio, o que fez com que os dois arrumassem um emprego em uma rede de fast food. Randal continua o mesmo, mas Dante está prestes a mudar de vida. Está com o casamento marcado, disposto a crescer na vida e cansado das brincadeiras estúpidas do colega. Uma transição que não será tão simples quanto parece e como os personagens gostariam que fosse.
Dante vive uma crise existencial porque se dá conta de que passou dos 30 anos e não pode mais passar o resto da vida atrás de um balcão se comportando como um adolescente. Parece que esse também é o dilema ao qual chegou o diretor Kevin Smith. Seu ‘Balconista 2’ não se resume apenas à seqüência de piadas e diálogos sarcásticos do primeiro filme. Há uma boa dose de sentimento, de certa compaixão até, com seus personagens, que de repente se veem atingidos pelos efeitos implacáveis do tempo, obrigados a habitar um universo diferente.
Não que ‘Balconista 2’ seja um filme careta, muito pelo contrário. Os diálogos boçais estão lá, o humor escatológico permanece, juntamente com a veia sarcástica e o politicamente incorreto. E isso rende momentos brilhantes, como um duelo verbal entre adoradores de ‘Star Wars’ e ‘Senhor dos Anéis’, e a participação de um casal negro para quem tudo são atitudes racistas.
O que muda é que o diretor se dá a liberdade de colocar seus personagens para refletir um pouco sobre a vida, sobre seus sentimentos e as dificuldades de adaptação a um novo habitat. É bem verdade que Smith lança mão de clichês, mas não chega a descambar para o piegas. O resultado não é nenhuma obra prima, mas rende bons momentos de diversão. E, se não é nenhum revolucionário, o diretor ao menos consegue ir além da superfície, escondendo um fio de provocação por trás do humor grotesco.

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