sábado, 12 de março de 2011

Sangue e risos

Desde o dia em que alguém descobriu que poderia ressuscitar mortos e usá-los para assustar as pessoas, zumbis têm sido alguns dos personagens mais eficazes dos filmes de terror. E do humor também, já que os dois gêneros caminham lado a lado. Não raro, as histórias que envolvem essas criaturas têm sempre o mesmo fundamento: um grupo de pessoas fugindo e se escondendo para não serem devoradas e tornarem-se mais uma dessas terríveis criaturas. ‘Zumbilândia’ não foge desse conceito, mas amplia um pouco mais a ideia. Digamos que ele a estende a um estágio seguinte, quando o pavor ficou para trás e já estamos nos acostumando a uma nova realidade.
Os Estados Unidos foram assolados por uma praga que transformou quase a totalidade de sua população em criaturas grotescas, sedentas de sangue e miolos. Nesse cenário, dois sobreviventes se encontram: Columbus (Jesse Eisenberg), um adolescente nerd que segue um conjunto de regras para sobreviver no mundo pós-apocalíptico; e Talahassee (Woody Harrelson), um maluco fanático por doces que se diverte encontrando novas formas de liquidar zumbis.
No caminho para algum lugar onde acreditam ser possível encontrar um pouco de tranqüilidade, os dois encontram duas garotas, Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslin). Após alguns desencontros, os quatro decidem permanecer juntos e assim enfrentar as adversidades (entenda-se mortos vivos) até chegarem cada um ao destino visado. O que segue é muito menos uma sucessão de sustos do que tiradas de humor, explorando as mais variadas formas de aniquilar zumbis com sangue jorrando aos borbotões.
Quando se fala em filmes de zumbi, ninguém tem mais autoridade do que George Romero, criador do clássico ‘A Noite dos Mortos Vivos’, que até hoje diverte gerações explorando o gênero. Em muitos casos, o cineasta usava as criaturas como metáforas para questões políticas, como a perseguição a determinados segmentos. Em meio a todo seu humor escrachado, ‘Zumbilândia’ também tem suas metáforas, não político-sociais, mas sentimentais.
Os quatro personagens são pessoas solitárias, que alimentavam sonhos ou perderam algo de suas vidas antes normais. Cada um tem um destino em vista, um porto seguro onde imaginam, se não estar a salvo das criaturas repugnantes, ao menos reencontrar algum conforto, uma memória acalentadora. Os zumbis foram apenas os artifícios encontrados pelo diretor Ruben Fleischer para tornar essa busca menos sentimentaloide e muito mais divertida e inusitada.
O ponto alto de ‘Zumbilândia’ é a participação de Bill Murray, o célebre ator de produções tão díspares como ‘Os Caça Fantasmas’ e ‘Encontros e Desencontros’. Numa sequência hilária, o ator vive a si mesmo como um zumbi, ou não exatamente isso. Só assistindo mesmo para sentir. Com um roteiro simples e direto, boas piadas, muito sangue e curta duração (menos de uma hora e meia), ‘Zumbilândia’ é extremamente competente naquilo que se propõe: diversão despretensiosa e sem compromisso. Dez vezes melhor do que muito filme cabeça por aí.

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