quinta-feira, 17 de março de 2011

Pouco riso, nenhum questionamento


A política é cheia de histórias deliciosas, capazes de render no cinema produções tão intrigantes quanto divertidas. O sucesso na transposição dessas histórias vai da qualidade do diretor em traduzir para o grande público os ‘detalhes técnicos’ das discussões que envolvem congressistas, relações internacionais e outras figuras pitorescas alheias ao ambiente (ou que, pelo menos, esperava-se que fossem). Eu diria que Mike Nichols não foi muito feliz com seu ‘Jogos do Poder’, que leva às telas um episódio real passado nos anos de Guerra Fria.
Passado no início da década de 80, o filme nos apresenta o deputado texano Charlie Wilson (Tom Hanks), afeito a mulheres, festas e champanhe da mesma forma como se interessa por política internacional. Essas preferências o levam á socialite Joanne Herring (Julia Roberts), que, numa estratégia de sedução e interesse político, o convence a ir até o Afeganistão, país ameaçado pela invasão soviética. Da conversa com líderes daquele país e uma visita a um campo de refugiados nasce um intricado plano para os Estados Unidos armarem os afegãos e ajudarem a combater os comunistas.
Baseado no livro do jornalista George Crile, o filme relata uma sucessão de fatos que levou o governo norte-americano a elevar maciçamente o seu orçamento para compra de armas. Apesar do tema complexo e de contar com um número significativo de personagens, o diretor conseguiu realizar um filme enxuto, de pouco mais de uma hora e meia de duração. O que não quer dizer que não se torne maçante em alguns momentos.
Quando se adonou da historia, Nichols tinha duas possibilidades em mãos: realizar um drama político questionador, explorando aquilo que pode ser considerado o início de uma nova era armamentista do governo norte-americano; ou então enveredar pelo lado da comédia, usando da personalidade dúbia de Charlie Wilson para compor um bem-humorado contraponto entre duas faces da vida pública. Mas nem uma coisa nem outra. O diretor ficou no meio do caminho e fez um filme que confunde muito, diverte pouco e questiona menos ainda.
Diretor experiente, Nichols tem no currículo algumas experiências com o cinema politizado, como ‘O Dia do Golfinho’ e ‘Segredos do Poder’. Seria o suficiente para compreender que não é fácil cativar o espectador comum quando se tem uma história cheia de peculiaridades específicas do meio. Não se trata de produzir um roteiro totalmente didático, mas ao menos burilar os diálogos, de modo a não entediar o espectador e deixá-lo boiando, como acontece muitas vezes em ‘Jogos do Poder’.
O principal de tudo, porém, é que falta humor. Aquele humor sórdido do cinema político, encontrável aqui somente quando entra em cena o agente da CIA Gust Avrakotos (vivido pelo sempre eficiente Philip Seymour Hoffmann, indicado ao Oscar de ator coadjuvante pelo papel). Seu personagem é responsável por tiradas divertidíssimas, que poderiam ser mais freqüentes, sem que se perdesse a essência da história. Somente ao final o diretor resolve colocar um pouco de crítica, mas aí já é tarde. A oportunidade de garantir bom entretenimento politizado já foi desperdiçada.

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