sábado, 12 de março de 2011

Nos campos da África do Sul

Não poderia haver momento mais propício para o lançamento de ‘Invictus’ nas videolocadoras como agora. O último filme do veterano Clint Eastwood se passa na África do Sul, tendo como protagonista o ex-presidente Nelson Mandela, envolvido em uma história de nacionalismo e superação no meio esportivo. Então, nada como aproveitar os intervalos entre os jogos da Copa do Mundo para dar uma espiadela na produção, que se não está entre as melhores de Eastwood, ainda mostra que o velhinho sabe das coisas.
O projeto de levar a vida do líder sul-africano às telas foi elaborado numa parceria entre o diretor e Morgan Freeman, ator que dá vida a Mandela no filme. Consta que nos anos 90, quando questionado sobre quem gostaria de vê-lo representando no cinema, o ex-presidente apontou justamente o nome de Freeman. Justo, pois além do talento, a semelhança física é impressionante. Inicialmente, a ideia da dupla era realizar uma biografia de Mandela, mas dada a riqueza de sua história, perceberam que seria muito material para pouco filme.
Foi então que conheceram o livro ‘Playing the Enemy’, de John Carlin, que retrata um momento especial da história sul-africana. Recém-empossado na presidência, Mandela vê a Copa do Mundo de rúgbi, que seria realizada no país, como uma oportunidade de unir a população e reforçar o fim do apartheid, regime que durante décadas segregou brancos e negros. Por ser um esporte de origem inglesa, o rúgbi era visto com antipatia pela população negra, que chegava até mesmo a torcer contra a equipe nacional.
Além de Mandela, a narrativa põe foco no capitão do time, François Pienaar (Matt Damon). À frente de uma equipe desacreditada, que vem acumulando derrotas, ele recebe do presidente a incumbência de motivar os demais jogadores para buscar um milagre: tornar a seleção sul-africana campeã do mundo. O desfecho não é segredo para ninguém e está registrado na história: o milagre se consolidou e o time outrora combalido conquistou o título.
Quem acompanha essa coluna sabe que nunca escondi a admiração por Clint Eastwood, um dos maiores cineastas norte-americanos ainda em atividade. Mas não posso negar que ‘Invictus’ tem problemas, alguns sérios. O maior deles a caracterização de seus personagens. Apesar de indicados ao Oscar, Freeman e Damon têm desempenhos constrangedores. Nelson Mandela parece um semideus que só fala através de chavões retirados de seus discursos. Já François Pienaar é um brucutu repetindo mantras de livros de auto-ajuda.
Mas Eastwood é mestre naquilo que faz, especialmente no que diz respeito à narrativa. Sempre de maneira simples e linear, sem querer inventar a roda, o diretor consegue envolver o espectador e imprimir um ritmo crescente em suas histórias. Por mais que se ampare em clichês, ‘Invictus’ consegue emocionar, principalmente quando pensamos que se trata de fatos reais. O melhor são as sequências dentro do estádio, filmadas com a precisão de quem domina a técnica cinematográfica como poucos. Aos 80 anos, Clint Eastwood é como aquele craque em final de carreira, que pode até perder o vigor físico, mas a classe jamais.

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