sexta-feira, 18 de março de 2011

Por trás da guerra



Apesar de se consagrar como grande vencedor do Oscar em 2006, ‘Crash – No Limite’ era um típico filme-engodo. Com uma trama multifacetada e uma montagem eficiente, passava em um primeiro momento a impressão de ser um filme envolvente e questionador. Mas bastava um olhar mais a fundo para perceber que se tratava de um amontoado de clichês embalado sob a forma de um pastiche dos filmes de Robert Altman. Para nossa felicidade, o diretor Paul Haggis (que havia estreado com essa produção) evoluiu e amadureceu, como deixa evidente em seu segundo filme, o interessante ‘No Vale das Sombras’.
Se em ‘Crash’, Haggis falhou ao querer abraçar o mundo com as pernas, colocando no mesmo barco problemáticas como preconceito, criminalidade e distanciamento entre as pessoas nas grandes urbes, em ‘No Vale das Sombras’ ele acerta ao enveredar por um caminho bem definido. Seu alvo é a guerra, mais precisamente o conflito no Iraque, que serve apenas como um referencial para questionar a política e o suposto idealismo envolvido nas questões bélicas.
Um dos méritos do diretor é deslocar o foco da ação do campo de batalha para o território americano, onde milhares de pais aguardam com expectativa o retorno dos filhos chamados para combater no Oriente Médio. Um desses pais é Hank Deerfield (Tommy Lee Jones, em mais uma brilhante interpretação, responsável pela única indicação do filme ao Oscar), ex-militar que recebe a notícia de que seu filho desertou do exército. A busca dura poucos dias, até quando são encontrados os restos mortais do rapaz, brutalmente assassinado sem maiores explicações.
Ex-investigador do exército, Hank começa a apurar o crime por conta própria, auxiliado por uma jovem policial (Charlize Teron) e dificultado por uma evidente disposição das forças armadas em abafar o caso. A investigação vai evoluindo aos poucos, entre pistas falsas e teses não comprovadas, descortinando o que se passa na vida dos jovens que deixam seus lares para ‘servir a pátria’.
‘No Vale das Sombras’ é, sem dúvida, um suspense policial, que leva o espectador a teorizar sobre os motivos de um crime, jogando com as evidências até o seu desfecho. A trama investigatória, porém, importa menos do que a realidade que se esconde por detrás do crime, das circunstâncias que levaram a tal acontecimento. Com um estilo totalmente Clint Eastwood, o personagem de Tommy Lee Jones é frio, durão, introspectivo. Mas, de maneira quase impassível, vê seus ideais de heroísmo e patriotismo desmoronarem à medida que percebe os impactos de uma guerra cujas razões desaparecem diante da tragédia de seus protagonistas.
Haggis ainda mantém alguns vícios irritantes, como ser didático demais em algumas situações e carregar em determinados estereótipos (a personagem de Charlize Teron é o maior exemplo). Diferente de ‘Crash’, porém, não dá margens a soluções fáceis e apelativas, narrando a história com paciência e sem desviar a atenção do espectador. Prova que é possível contar uma boa história e ser político sem ser panfletário.

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