quinta-feira, 24 de março de 2011

Bons sustos e nada mais



Ás vezes tenho a sensação de que o cinema de terror parece ter se esgotado, chegado a um ponto em que não há nada mais a se criar, apenas reciclar o que já foi inventado e reaproveitar os mesmos sustos que temos levado há décadas. Vindo da Espanha, de onde estamos mais acostumados a ver os melodramas cult-brega de Almodóvar, ‘REC’ confirma essa teoria e não traz nada que o espectador já não tenha visto em alguma produção norte-americana ou oriental. Mas ainda assim consegue cumprir seu papel, provocando no espectador uma dose considerável de tensão e garantindo-lhe alguns bons sustos.
Os jovens cineastas Jaume Balagueró e Paco Plaza partem de uma fórmula conhecida, que, apesar das poucas vezes em que foi aplicada, já começa a se tornar manjada. É a técnica lançada por ‘A Bruxa de Blair’ e depois referendada por ‘Cloverfield – O Monstro’, em que toda a ação simula o registro de uma filmagem. Mas, diferente das duas produções americanas, ‘REC’ consegue fazer bom uso dessa tática, realmente impressionando o espectador, não soando como uma brincadeira estúpida de amigos que se pretendem gênios cinematográficos.
Da história não há muito o que se contar. Ângela Vidal é uma repórter de TV que acompanha uma noite no Corpo de Bombeiros, a fim de mostrar a seus telespectadores como é a madrugada dos homens do fogo. Nada muito empolgante como ela esperava. Quando surge um chamado, a equipe acompanha os soldados a um prédio antigo, onde há a informação de que uma senhora estaria presa no quarto. Nem preciso dizer que o que espera no local é algo bem pior, prestes a transformar a vida de todos em um pesadelo. A partir daí, o melhor é que o espectador acompanhe com seus próprios olhos, para aproveitar melhor os efeitos surpresa do filme.
Como já havia dito, não há nada de original nos cerca de 75 minutos de ‘REC’. Os clichês repetidos vão desde os filmes de zumbi de George Romero até a câmera trepidante e semidocumental de ‘Bruxa de Blair’. Entretanto, os diretores conseguem fazer bem aquilo a que se propõe um filme de terror, que é assustar a plateia. Mesmo que o espectador saiba que atrás da porta se esconde algo terrível, que uma criatura não está morta como aparenta, acabará surpreendido por conta da técnica realista impressa à produção.
Para garantir que essa proposta fosse consolidada na tela, os diretores optaram pelo mistério até entre a equipe de filmagem. Dizem eles que, em algumas sequências, nem os atores sabiam o que iria acontecer, tomando assim sustos tão grandes quanto o espectador. Usando apenas cenários reais e alguns truques que dissimulam os efeitos especiais, os cineastas conseguiram assegurar um tom mais realista às imagens. Além disso, a curta duração faz com que o filme seja mais intenso e não perca tempo com rodeios que só entediam o espectador ávido por tensão.
‘REC’ não significa a revitalização do cinema de horror, como alguns já propagaram. Nesse sentido, sua contribuição está bem aquém da que já tiveram japoneses e coreanos, por exemplo. Mas, nesses tempos em que se ressuscita Jason para tentar amealhar o público, prender nossa atenção por mais de uma hora já está de bom tamanho. E a quem interessar possa, já existe uma refilmagem norte-americana, intitulada ‘Quarentena’. Eu dispenso.

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