sábado, 12 de março de 2011

Pretensão além da conta

Pretensioso. Esse é o termo que melhor define o cinema do inglês Anthony Minghella, alçado ao primeiro escalão em 1998, quando foi o grande vencedor do Oscar com seu ‘O Paciente Inglês’. Seus filmes são produções suntuosas, com diálogos elaborados e metáforas visuais, que tentam desde o início criar em torno de si uma aura ‘cult’. Quando, na realidade, tudo o que o diretor consegue é produzir filmes enfadonhos, que logo caem no esquecimento do grande público. Mesmo mudando de rumo, sua mais recente obra, ‘Invasão de Domicílio’, vem apenas para confirmar essa tese.
Em seus filmes anteriores, Minghella se dedicou a produções de época, adaptadas de obras literárias (casos de ‘O Talentoso Ripley’ e ‘Cold Mountain’). Com ‘Invasão de Domicílio’, o cineasta reverte ambos os enfoques, investindo em um roteiro próprio, com uma história ambientada nos dias atuais. Uma oportunidade interessante para ver como ele se sairia abrindo mão dos clichês de época e tendo liberdade para criar seus próprios diálogos.
A história se passa numa Londres periférica, distante dos cartões postais. Will (Jude Law) abre um escritório de arquitetura em King’s Cross, lugar tomado por prostitutas e marginais. Seu casamento com a sueca Liv (Robin Wright Penn) é inconstante, abalado em parte pela filha problemática. Certa noite, ladrões invadem e roubam seu escritório. Ao perseguir um dos arrombadores, Will conhece a mãe do adolescente, Amira (Juliette Binoche), uma costureira bósnia. Os dois se envolvem amorosamente e tornam a situação ainda mais complicada.
Como se pode perceber, o diretor quis abraçar o mundo com as pernas. Jogou em um mesmo roteiro drama familiar, conflitos amorosos, violência urbana, preconceito étnico e diferenças culturais. Somente alguém muito talentoso para conseguir conciliar todos esses elementos complexos de maneira coerente e envolvente. Infelizmente, Anthony Minghella não tem esse talento todo. Ao invés de um enredo denso, como seria de se esperar, o filme se transforma numa colcha de retalhos, no qual se problematiza muito, mas pouco se soluciona.
O que mais irrita, contudo, acaba não sendo tanto o conteúdo, mas a forma. Os personagens dialogam como se estivessem recitando um livro de Milan Kundera, teorizando e filosofando sobre sentimentos o tempo todo. No princípio chega a ser interessante, mas à medida que esse cacoete vai se repetindo, os ouvidos do espectador se cansam. E, ok, Minghella sabe construir belas imagens com sua câmera metafórica. Mas, da mesma maneira, não há quem resista a bons enquadramentos quando o discurso cai constantemente no vazio.
Pode até ser implicância de minha parte, mas não consigo enxergar Anthony Minghella além de um picareta. Alguém que não parece em momento algum procurar ser honesto com o público, vendendo seus filmes como produtos ‘intelectualizados’, mas que só dão a impressão de que fazem o espectador pensar. Em tempos de um cinema cada vez mais pasteurizado, ‘Invasão de Domicílio’ é apenas mais um produto com vistosa embalagem e totalmente descartável.

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