quinta-feira, 17 de março de 2011

Super-heróis de verdade


Admito que meu conhecimento sobre histórias em quadrinhos é tão grande quanto sobre tecnologia de aviões. Essa ignorância talvez seja responsável por me deixar tão fascinado por filmes que expliquem calmamente, em todos seus pormenores, a história de super-heróis. Enquanto grande parte do público boceja ou cobra impacientemente as cenas de luta e ação, me delicio com traumas, angústias e crises existenciais que precedem o momento da transformação. Mas o que ‘Kick-Ass – Quebrando Tudo’ conseguiu foi algo até então inédito: juntou as duas coisas, acelerou e suprimiu qualquer resquício de tédio. Isso contando a história do super-herói mais humano desde Bruce Willis em ‘Corpo Fechado’.
‘Kick-Ass’ é baseado em uma HQ homônima criada por Mark Millar. À primeira vista, parece uma produção descartável, daquelas para ver, se divertir e jogá-la na lixeira da memória depois de alguns minutos. Por trás de uma aparente superficialidade, no entanto, o filme reserva qualidades respeitáveis, fundindo ação, drama, humor negro e apuro visual. Sem grandes estrelas (à exceção de Nicolas Cage, muito à vontade como coadjuvante) ou um diretor renomado (Matthew Vaughn, mais conhecido por ‘Stardust – O Mistério da Estrela’), dá uma surra em qualquer um dos episódios de ‘Homem Aranha’.
O personagem principal, Dave Lizewski (Aaron Johnson), é um adolescente nerd que tem em mente uma simples pergunta: por que ninguém até hoje resolveu se tornar um super-herói? Ele vai atrás da resposta ao adquirir pela internet uma roupa verde capaz de preservar sua identidade. Em sua primeira experiência no combate ao crime, é esfaqueado e atropelado. Apesar da tentativa traumática, Dave não desiste e se torna celebridade na internet ao apanhar um bocado, mas ainda assim conseguir afugentar um bando de marginais.
Empolgado com a fama, o Kick-Ass (nome escolhido para seu alter ego) vê as coisas ficarem mais sérias quando se envolve acidentalmente com o crime organizado. Seu caminho se cruza com o de outros dois super-heróis mais profissionais, digamos assim, Big Daddy (Nicolas Cage) e sua filha Hit Girl (a jovem e promissora Chloe Moretz). A situação torna-se ainda mais complicada e ainda faz surgir outro herói, Red Mist (Christopher Mintz-Plasse).
Um dos aspectos mais divertidos em ‘Kick-Ass’ é o tratamento da natureza heroica, nascida da mesma maneira que alguém escolhe uma carreira profissional e enfrenta os percursos naturais. Ainda que não carregue traumas ou um passado obscuro, o protagonista exibe sua condição humana, identificável com a de grande parte dos adolescentes do mundo real. O roteiro trata de não deixar isso superficial, lembrando-nos constantemente que o que está por trás daquela fantasia é nada menos que um ser humano. 
Como em todo filme de super-herói, sobram cenas de ação, lutas e sangue, muito sangue. O diretor não ameniza na violência e carrega no humor negro, exibindo seus dotes de Tarantino. Em resumo, ‘Kick-Ass’ tem a cara do cinema atual direcionado ao público jovem: é violento, é ágil, é pop, é divertido. Só não é descartável como a maioria.

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