sexta-feira, 25 de março de 2011

De fã para fã



Que Martin Scorsese é um amante de rock’n roll não é segredo para ninguém. Tampouco que ele é fã de Rolling Stones. As canções do quarteto inglês acompanham seus filmes desde ‘Caminhos Perigosos’ até o oscarizado ‘Os Infiltrados’, quase sempre fazendo um casamento perfeito entre imagem e som. Sendo assim, não foi nenhuma surpresa quando o diretor anunciou a produção de um documentário sobre uma de suas bandas preferidas. O resultado, ‘Shine a Light’, não deixa de ter seu interesse, mas está muito mais direcionado aos fãs dos roqueiros que do cineasta.
Scorsese não é nenhum novato na área de documentários musicais, muito pelo contrário. Suas experiências anteriores o credenciavam para enfocar a vida de qualquer artista que fosse. Em 1978, anos depois de surpreender o mundo com ‘Taxi Driver’, dirigiu ‘The Last Waltz’, que mostrava o último show da The Band, formação histórica que reuniu nomes como Bob Dylan e Eric Clapton. Até hoje a produção é listada por críticos entre os melhores documentários sobre música da história do cinema. Em 2005 foi a vez de ‘No Direction Home’, que apresentava de maneira arrebatadora a primeira fase da carreira de Bob Dylan.
Em uma atitude mais reverencial, Scorsese optou por retratar os Rolling Stones da maneira mais direta possível: em ação no palco. Foram dois shows gravados no Beacon Theatre, em Nova York, produzidos exclusivamente para o documentário. Foram colocadas em ação nada menos que 17 câmeras, mostrando a banda de todos os ângulos possíveis e imagináveis. Para criar algum atrativo diferente, foram chamados como convidados Buddy Guy, Jack White (do grupo White Stripes) e a cantora pop Cristina Aguilera (?!).
Diferente de outros documentários musicais, que procuram expor ao público a personalidade dos músicos, com entrevistas reveladoras, intrigas de bastidores e depoimentos de pessoas próximas, ‘Shine a Light’ entrega ao espectador o que a banda sabe fazer: música. De início há alguns detalhes de bastidores, entre as apresentações há algumas entrevistas antigas dos músicos, mas em sua essência, o que vemos é a banda em ação nos seus mínimos detalhes. As câmeras de Scorsese acompanham os músicos de maneira extremamente intimista, nos instrumentos, nas expressões faciais, na troca de olhares... nem mesmo em frente ao palco um espectador se sentiria tão próximo da banda.
Para quem também é fã dos Stones, acredito que seja uma experiência inebriante. Para mim, que mesmo sendo um aficionado por rock, não tenho grande apreço pela banda, falta um molho. Há passagens divertidas, como o desencontro de ideias entre o cineasta e Mick Jagger, ou entrevistas do guitarrista Keith Richards em que ele destila todo o seu veneno contra os entrevistadores. Talvez um pouco mais desses momentos pudessem ser melhor explorados, tornando o filme menos cansativo para quem não é admirador do grupo. Mas, enfim, Scorsese sabe o que faz. E como fã sabe melhor do que ninguém como deliciar seus milhões de colegas pelo mundo.

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