sábado, 26 de março de 2011

Sério, mas nem tanto



Já manifestei aqui em outras oportunidades minha imensa admiração pelos irmãos Joel e Ethan Coen, a meu ver os cineastas mais talentosos e instigantes de sua geração. Seus filmes carregam um senso de humor peculiar, capaz de inseri-los quase que em um gênero cinematográfico próprio. São dramas que não podem ser levados tão a serio ou comédias carregadas de um humor negro próximo da tragédia. Seu mais recente filme, ‘Um Homem Sério’, segue exatamente a mesma linha, mas por algum motivo que ainda me escapa, é o que menos me impressionou em toda sua trajetória.
A história segue os mesmos moldes da maioria de seus roteiros: um homem normal que de repente vê sua vida entrar em parafuso por conta de pequenos acontecimentos cujos desdobramentos se agigantam. Esse homem, no caso, é Larry Gopnik (o desconhecido Michael Stuhlbarg), um professor judeu que vê a esposa deixá-lo para ficar com o melhor amigo da família. O filho rebelde se prepara para o ‘bar mitzvah’, a filha pensa apenas em fazer uma plástica no nariz e o irmão, adoecido e viciado em jogo, vive às suas custas.
Como nos filmes dos Coen nada é tão ruim que não possa ser piorado, Larry se vê chantageado por um aluno coreano que precisa de notas e, para completar, passa a ser seduzido pela vizinha casada. Um cenário que coloca à prova as convicções do protagonista, como diz o título, um homem sério, que segue rigorosamente os princípios de sua religião, da ética profissional e da moralidade. A ajuda será buscada junto a três rabinos, aos quais Larry pede orientação sobre o que fazer.
Toda a essência de ‘Um Homem Serio’ gira em torno da cultura judaica, da qual os próprios diretores fazem parte. Quem não conhece o mínimo dessa cultura e suas tradições ficará alheio ao olhar irônico e debochado que os irmãos Coen lançam sobre as mesmas. Sem serem desrespeitosos, os cineastas parecem fazer um apanhado de algumas experiências particulares, colocando aqui e ali situações e personagens que remetem a algum lugar do passado. Dessa forma, é seu filme mais pessoal, que não apela tanto a situações bizarras como em suas outras produções.
Este talvez seja um dos itens que faltem a ‘Um Homem Sério’. Apesar de sequências engenhosas, como o prólogo em que um casal recebe a visita de um fantasma, ou o encontro do filho de Larry com um rabino, elas parecem destoar do contexto geral do filme, um tanto arrastado e conservador até. Talvez por querer fazer um filme com um caráter mais pessoal, os Coen não se preocuparam tanto em mergulhar no seu universo de personagens excêntricos e soluções descabidas. No final das contas, esses desvios, digamos assim, acabam fazendo falta. 
Claro que há qualidades, como a interpretação de Michael Stuhlbarg, ator do qual jamais havia ouvido falar e que se encaixa com perfeição no papel principal. Há momentos divertidos, a tradicional ironia dos diretores se faz presente, o roteiro funciona bem, mas fica faltando um algo mais. Nada que seja motivo para condená-los, afinal até mesmo os gênios têm seus altos e baixos. Quem sabe na próxima oportunidade.

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