quinta-feira, 24 de março de 2011

Muita conversa e pouca ação



Tenho o maior respeito por David Mamet, seja como roteirista ou diretor, ainda que seu nome esteja mais associado ao teatro. De todo modo, ele já concebeu filmes bem interessantes como ‘Jogo de Emoções’, ‘As Coisas Mudam’ e ‘O Assalto’, vigorosos principalmente por seus roteiros intricados e pelo trabalho dos atores. Pois foi por ele, unicamente por ele, que me dispus a assistir a ‘Redbelt – Cinturão Vermelho’, filme cujo tema principal é jiu-jitsu, a arte marcial que fez a fama dos irmãos Gracie. Lamentavelmente, nem o talento de Mamet foi capaz de salvar o filme do desastre.
Antes que me chamem de preconceituoso, meu conceito negativo não é por se tratar de um filme de luta. Apesar de não estar entre meus gêneros prediletos, tenho grande apreço pelas produções de kung fu da década de 80 e pelos primeiros filmes de Jackie Chan, rodados em Hong Kong antes de ele alcançar o estrelato. O problema está na maneira como o diretor decidiu tratar o assunto, não se decidindo entre um filme de ação, um drama sombrio ou um suspense policial.
A trama é intricada, como era de se esperar de uma obra de David Mamet. Mike Terry (Chiwetel Ejiofor) é um professor de jiu-jitsu que resiste em competir por acreditar muito mais na filosofia da luta. Certa noite, um incidente em sua academia envolvendo uma advogada e um policial o coloca em maus lençóis. Obrigado a correr atrás de dinheiro, já que os negócios não vão lá muito bem, ele se convence (ou é convencido) a usar seu talento nos ringues. No mar de lama em que começa a mergulhar, há espaço ainda para um astro de cinema (Tim Allen), um produtor (Joe Mantegna, colaborador antigo do diretor) e um promotor de lutas (Ricky Jay).
O filme tem relação direta com o Brasil, já que a arte marcial foi difundida pelo país, citado várias vezes como referência pelos personagens. Até em razão disso, Mamet incluiu atores brasileiros na história, inclusive falando português em determinados momentos. Alice Braga é a esposa de Terry, Rodrigo Santoro seu cunhado trambiqueiro e o lutador John Machado o vilão inescrupuloso. Coincidência ou não, todos personagens de índole no mínimo duvidosa.
No fim das contas, ‘Redbelt’ não agrada nem um público nem outro. Quem esperava um filme com adrenalina e lutas bem coreografadas vai sair frustrado, já que os únicos momentos de real combate são os da sequência final. Por sua vez, quem se sente atraído pelas tramas envolventes de David Mamet ficará ainda mais decepcionado. O roteiro é de uma pobreza inacreditável, com diálogos que beiram o ridículo, personagens mal construídos e soluções confusas e pouco convincentes, que nem de longe lembram o grande escritor por trás das câmeras.
Se serve como consolo, nossos representantes brazucas até que se esforçam, com atuações convincentes e inglês bem pronunciado. Pena que tenham sido prejudicados, ainda que estivessem nas mãos de um diretor talentoso, que tem entre seus maiores méritos valorizar os atores. É o típico caso da pessoa certa, na hora certa, mas na história errada.

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