sábado, 26 de março de 2011

Polêmico e brilhante



A essa altura, já não há muita coisa a acrescentar sobre ‘Tropa de Elite’, não apenas o maior sucesso do cinema nacional dos últimos anos como talvez um dos maiores fenômenos culturais do País na década. Mesmo quem ainda não teve a oportunidade de assistir ao filme está por dentro de toda a polêmica que marcou a produção, desde o vazamento de cópias piratas antes de seu lançamento, passando pelas acusações de ‘fascista’ e ‘direitista’, até a controversa premiação no Festival de Berlim, há duas semanas. Logo, vamos aproveitar o lançamento da produção em DVD (oficial) para falar um pouco de ‘Tropa de Elite’ como cinema em si.
‘Tropa’ é o primeiro longa-metragem de ficção de José Padilha, diretor que já havia dado mostras incontestáveis de talento no documentário ‘Ônibus 174’. Ao retratar o assalto frustrado comandado por um menor no Rio de Janeiro, o cineasta construiu quase que um thriller, com tensão crescente e um desfecho arrebatador. Para sua estréia na ficção, se cercou de um time de primeira linha, que inclui o roteirista Bráulio Mantovani e o montador Daniel Rezende, ambos indicados ao Oscar por ‘Cidade de Deus’.
As comparações com o filme de Fernando Meirelles são inevitáveis, em virtude das várias semelhanças entre as obras, tanto conceituais como técnicas. Ambos são inspirados em livros que retratam situações reais passadas no universo das favelas do Rio de Janeiro e da criminalidade. A ágil seqüência de abertura, a montagem frenética, a narração em off, a estrutura narrativa quebrada, que vai e volta no tempo, também são pontos em comum entre as produções.
Isso não significa que ‘Tropa de Elite’ seja um subproduto ou uma cópia de ‘Cidade de Deus’, muito pelo contrário. O filme de Padilha não apenas tem vida própria como personalidade forte, haja vista toda a polêmica em torno de suas idéeias, como a de que o consumidor de drogas financia o tráfico e que o uso da força é uma regra dentro dos organismos policiais. Mais do que isso, apresenta uma história parecida sob outro ângulo: ao invés do universo romântico dos criminosos, a realidade cruel dos policiais.
A história é mais do que conhecida, mas não custa relembrar: o capitão Nascimento (Wagner Moura) comanda uma unidade do Batalhão de Operações Especiais (Bope), unidade policial carioca designada para missões espinhosas. Sua última tarefa antes de deixar a corporação é apaziguar os ânimos em uma favela durante a preparação para a visita do papa ao Rio. Essa missão também vai servir para que ele escolha seu substituto, entre os aspirantes Neto (Caio Junqueira) e Matias (André Ramiro).
Se for para resumir em uma expressão o que é ‘Tropa de Elite’, diria que é um dos melhores filmes de ação do cinema recente, comparável apenas a ‘O Ultimato Bourne’, de Paul Greengrass. O desempenho formidável dos atores, as qualidades técnicas que não ficam a dever em nada às produções hollywoodianas e a tensão permanente do início ao fim fazem dele uma nova referência da produção nacional, que tem tudo para consolidar uma boa carreira mundo afora. Sobre questões ideológicas, deixo que o espectador tire suas próprias conclusões.

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