sábado, 12 de março de 2011

Muito além da ação

Paul Greengrass é, notadamente, o mais novo craque dos filmes de ação. Não simplesmente pela capacidade de filmar boas cenas de perseguições, brigas e tiroteios, mas pelo diferencial de conseguir envolver o espectador com enredos mais intricados e artimanhas de edição. Não é nada de outro mundo, mas garante um pouco mais do que estamos acostumados a acompanhar no gênero. A sensação que se tem ao assistir a ‘Zona Verde’ é um misto de déja vu com satisfação diferenciada.
Greengrass fez pelo menos dois filmes notáveis, ‘Voo United 93’ e ‘O Ultimato Bourne’. O brilhantismo dessas duas produções não estava no roteiro ou nos atores, mas na montagem. Como um aplicado discípulo de Sergei Eisenstein (russo que no início do século 20 aprimorou a técnica de montagem), o norte-americano fez da edição das cenas seu grande trunfo para prender a atenção do espectador. Imprimindo um ritmo sufocante, conseguiu nos colocar quase na pele de seus personagens, compartilhando uma angústia milimetricamente calculada.
Como não poderia deixar de ser, ‘Zona Verde’ usa e abusa novamente dessa técnica. Dessa vez para contar a história do subtenente do Exército Roy Miller (Matt Damon), coordenador de uma missão para descobrir armas de destruição em massa no Iraque. Após sucessivas tentativas fracassadas, o militar começa a desconfiar que existe algo de errado. Entram em cena então quatro personagens: um agente de inteligência do Pentágono (Greg Kinnear), o chefe local da CIA (Brendan Gleeson), uma jornalista (Amy Ryan) e um civil iraquiano (Khalid Abdalla). Ao tentar ajudar ou prejudicar Miller, eles farão com que seja desvendado o que está por trás dessas operações.
Por estarmos novamente face a face com Matt Damon, a associação com a trilogia Bourne é imediata. Quando o vemos na posição de alguém que procura desvendar uma teoria conspiratória, com alguns dos mesmos cacoetes de seu personagem anterior, não há como não nos remetermos a mais um filme da série. Entre brigas e tiroteios, cortes bruscos e edição acelerada, temos a sensação de já ter presenciado tais cenas em algum outro momento de nossas vidas. O que também não atrapalha em muito a diversão.
O roteiro de ‘Zona Verde’ é baseado no livro jornalístico de Rajiv Chandrasekaran, atual editor do jornal ‘The Washington Post’. Por isso, não é mera coincidência que ao longo do filme nos identifiquemos com o noticiário de alguns anos atrás, quando o mundo foi surpreendido com a notícia de que o governo norte-americano não encontrou armas de destruição em massa no território iraquiano. Combinando elementos políticos, de suspense hitchcockiano e cenas de ação, o diretor entrega um filme que entretém e faz pensar, sem abusar dos clichês.
A propósito, essa mistura de suspense e política, famosa pelos idos de 1970, parece ter sido retomada com força, vide outras produções recentes como ‘Trama Internacional’ e ‘Intrigas de Estado’. No caso de Paul Greengrass, ele só precisa saber dosar melhor sua inovadora técnica de montagem, que por vezes enfastia um pouco. De resto, é mais um nome para se botar fé.

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