sexta-feira, 25 de março de 2011

Uma estreia vigorosa



É gratificante quando um filme do qual pouca coisa ou quase nada se sabe nos surpreende positivamente. ‘Santos e Demônios’ passou despercebidamente por parcas salas de cinema no País e chega de maneira igualmente discreta nas videolocadoras. Os únicos chamarizes ao grande público são as presenças do veterano ator-problema Robert Downey Jr. (novamente alçado à condição de astro graças a ‘Homem de Ferro’) e do jovem Shia LaBoeuf (protagonista de ‘Tranformers’). Na direção um tal de Dito Montiel, que faz sua estréia no cinema. Uma estreia promissora, com um filme realista, vigoroso, mas que não deixa a sensibilidade de lado.
O Dito Montiel cineasta é ninguém menos que o próprio protagonista da história, inclusive mantendo seu nome real. O roteiro autobiográfico relata a turbulenta juventude do diretor, que viveu no violento bairro do Queens, em Nova York, em meio a problemas familiares, brigas de gangues e amizades pouco saudáveis. Ainda jovem, Dito fugiu de casa e da cidade, o que teria sido determinante para que chegasse ao patamar de diretor de cinema.
O filme começa com Dito adulto, interpretado por Downey Jr., relembrando seu passado em uma entrevista para a televisão. Somos transportados então para a década de 80, onde o protagonista (agora vivido por Shia LaBeouf) passa seus dias bebendo, causando arruaça e se envolvendo em brigas na companhia dos amigos. A possibilidade de dias melhores é vislumbrada graças a um amigo escocês, que o leva para trabalhar e alimenta o sonho de ir para Califórnia, e uma garota pela qual se apaixona. Já crescido, Dito retorna para casa após 15 anos, para visitar o pai doente e acertar as contas com o passado.
O tom usado pelo diretor é de desesperança. Desde o início, fica evidente que a vida dos jovens personagens não oferece maiores perspectivas de um futuro promissor. Os núcleos familiares são desestruturados, seja na família de Dito, onde seu pai esnoba seus projetos de vida, ou na de Antonio, o amigo que todos os dias apanha dentro de casa. Nesse cenário, resta à juventude descambar para a delinqüência e, em alguns casos, até mesmo a morte.
A estrutura e a atmosfera de ‘Santos e Demônios’ são típicas do cinema independente, abusando da câmera na mão, da fotografia opaca e com o roteiro calcado principalmente nos personagens. Há momentos, porém, que lembram o Martin Scorsese do início de carreira, com a marginalidade tendo Nova York por cenário e embalada por canções pop da época. Há espaço ainda para alguns lances de ousadia, como colocar os personagens falando para a câmera. Toda essa miscelânea é feita de maneira coesa, sem forçar a barra ou desvirtuar o tom da narrativa.
‘Santos e Demônios’ mostra que o estreante Dito Montiel tem talento para a sétima arte. Além do roteiro consistente, o jovem elenco se sai muito bem, reforçado por Robert Downey Jr., cujo talento começa a ser redescoberto, e os veteranos Chazz Palminteri e Dianne Wiest. Não é um filme leve e agradável de se assistir, mas é recompensador a quem busca um pouco de frescor na produção atual.

Nenhum comentário:

Postar um comentário