sexta-feira, 25 de março de 2011

Menor sim, pequeno jamais



De todos os cineastas que fazem parte do primeiro escalão do cinema atual, Woody Allen é um caso à parte. Talvez seja um dos raros diretores dos quais pode-se dizer que é efetivamente realizado em sua carreira. Tem um extenso currículo, marcado por filmes brilhantes, colecionou inúmeros prêmios, alguns Oscar, conta com um público cativo (que não é pequeno) e o olhar sempre respeitoso da crítica, por menor que seja seu trabalho. Tudo isso lhe dá a liberdade de realizar filmes sérios e pretensiosos, ou por pura diversão, como quem cultiva um hobby. ‘Scoop – O Grande Furo’ está nessa última categoria e, acredite, é melhor do que muita coisa que se produz por aí.
‘Scoop’ sucede um de seus melhores e mais consistentes trabalhos dos últimos anos, o drama ‘Match Point – Ponto Final’. Tratava-se de uma obra densa, um pouco mais complexa do que o cinema habitual de Allen, tanto que ele preferiu não participar como ator. Como que para dar um descanso após uma tarefa árdua, o diretor decidiu espairecer e fazer um novo passeio pela comédia irresponsável (no bom sentido), construindo um filme leve e descontraído, no qual todos parecem estar se divertindo enquanto divertem a plateia.
Em ‘Scoop’, Scarlett Johanson é Sondra Pronsky, uma ingênua e atabalhoada estudante de jornalismo. Ao participar de um número de mágica comandado pelo igualmente estabanado Sidney Waterman (o próprio Allen), a jovem recebe a visita de Joe Stombel (Ian McShane), jornalista recém-falecido e com faro infalível para a notícia. O espírito lhe dá a dica para um grande furo de reportagem: a descoberta da identidade do ‘assassino do tarô’, uma espécie de versão contemporânea de Jack, o Estripador. O nome apontado pelo jornalista é de Peter Lyman (Hugh Jackman), milionário dos mais influentes da sociedade inglesa. Em busca do ‘grande furo’, Sondra parte com o mágico para a investigação e, com uma identidade falsa, acaba se envolvendo amorosamente com o suspeito.
Sempre em tom descontraído, Allen faz o que não chega a ser uma sátira, mas uma homenagem a dois gêneros de grande apelo popular: o suspense e a comédia romântica. É possível enxergar no filme algumas referências ao mestre Alfred Hitchcock, que adorava jogar com o espectador distribuindo pistas e induzindo-o ao óbvio, enquanto preparava alguma nova surpresa. A diferença é que Allen assume o tom burlesco, ironizando clichês, colocando as cartas na mesa e chamando a plateia para compartilhar de seus truques.
O diretor não abre mão de sua marca registrada, que são os diálogos mordazes, as piadas sutis e a ironia cortante. A diferença em relação aos seus grandes trabalhos é que Allen parece estar conduzindo tudo sem nenhuma preocupação ou compromisso de entregar um grande produto. Ao lado dos atores, parece estar se divertindo como um jogador profissional que participa de uma pelada com os amigos no final de semana. É um Woody Allen menor, porém, longe de ser descartável. Coisas de quem tem talento e bagagem para chegar a esse patamar.

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