sábado, 19 de março de 2011

O peso de uma suspeita



Foi sem muita empolgação que resolvi assistir a ‘O Suspeito’. Não tanto pela trama, que parecia interessante ou o elenco de bons nomes, mas por seu diretor, o sul-africano Gavin Hood. Para quem não se recorda, é ele o diretor do insosso ‘Infância Roubada’, que naquelas tradicionais e inexplicáveis atitudes da Academia, arrebatou um Oscar de filme estrangeiro. A julgar por sua obra anterior, esperava um filme ainda mais recheado de clichês e pieguice, uma vez que em Hollywood, onde estava estreando, o terreno era bem mais propício para tal. Para minha (agradável) surpresa, o que vi foi um filme bem estruturado, contundente e sem exageros.
‘O Suspeito’ evoca algumas questões que se tornaram recorrentes no cinema norte-americano mais politizado de uns anos para cá. Primeiramente, a paranoia pós-11 de setembro, a partir da qual toda pessoa de origem árabe passou a ser vista como um terrorista em potencial. Em segundo lugar, os métodos utilizados pelo governo dos Estados Unidos para descobrir e combater seus supostos inimigos, particularmente a prática de tortura.
O núcleo da história é um atentado a bomba no Egito, que deixa vários feridos e mata um agente da CIA. Em torno desse episódio acompanhamos uma cadeia de personagens. O principal deles é Anwar El-Ibrahimi (Omar Metwally), egípcio residente nos Estados Unidos, detido como suspeito de participação no atentado. Douglas Freeman (Jake Gyllenhaal) é o agente norte-americano designado para acompanhar os interrogatórios do suspeito. Esses interrogatórios, à base de tortura, são comandados por Abasi Fawal, líder político que seria o alvo do atentado.
Toda a ação é coordenada com frieza por Corrine Whitman (Meryl Streep), a poderosa chefe da CIA responsável por casos ligados ao terrorismo. Transtornada pelo sumiço inexplicado do marido, a esposa de Anwar, Isabella (Reese Whiterspoon) busca ajuda de um velho amigo (Peter Sarsgaard), assessor de um renomado senador (Alan Arkin). A cadeia se completa no Egito, com a filha de Fawal, Fátima, que mantém um relacionamento às escondidas com um jovem fundamentalista.
Diante da grande quantidade de personagens e de uma certa complexidade da trama, seria necessário um diretor com habilidade e mão firme para não deixar que o roteiro se tornasse confuso ou demasiadamente segmentado. Pois Gavin Hood não cedeu a uma coisa nem outra, conseguindo conduzir a história de maneira coerente, sem sobressaltos e até mesmo se dando ao luxo de quebrar a linearidade temporal em certo ponto, sem que o espectador se sinta incomodado.
‘O Suspeito’ tem seus defeitos, como a estereotipização de seus personagens (a chefe durona, a esposa sofrida, o agente em conflito...) e o convencionalismo de algumas soluções. Mas é contundente naquilo que se propõe, de questionar o direito de um governo em pré-julgar seus supostos inimigos. Distante do panfletarismo de um Oliver Stone, por exemplo, Gavin Hood dá seu recado de maneira eficaz, sem ser provocador ou didático demais.

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