sexta-feira, 18 de março de 2011

Boa causa, mau resultado



Apesar de não conseguir ser adepto, tenho o maior respeito e admiração por aqueles que se unem à causa vegetariana. Também não nutro a menor simpatia pelas redes de lanchonetes fast food e os McDonald’s da vida. E, mesmo assim, não consegui gostar de ‘Nação Fast Food’, filme de Richard Linklater que se propõe a denunciar os meandros da indústria do hambúrguer nos Estados Unidos. Por quê? Quem sabe, porque o diretor acertou na causa, mas errou feio na forma, se perdendo de uma maneira como ainda não havia visto em sua eficiente carreira.
Linklater é um diretor bastante eclético, digamos. Tem no seu currículo os romances cabeça ‘Antes do Amanhecer’ e ‘Antes do Pôr do Sol’, o divertidíssimo ‘Escola do Rock’ e a confusa ficção-animação ‘O Homem Duplo’. Seguindo essa carreira pouco linear, resolveu enveredar pelo filme-denúncia, adaptando o livro-reportagem “País Fast Food - O Lado Nocivo da Comida Norte-Americana”, de Eric Schlosser, que revela a assustadora realidade de abatedouros e lanchonetes americanas.
Com base nas revelações do escritor (e sua ajuda na composição do roteiro), o cineasta criou uma trama ficcional, composta por diversos personagens representando as diferentes cadeias do processo. Um desses personagens é o de Greg Kinnear, executivo de uma rede de fast food, mandado ao interior do País verificar como é produzida a carne do seu hambúrguer. A preocupação é com a divulgação de um estudo que aponta altos índices de coliformes fecais no produto, ou como o presidente da empresa define, ‘shit in the meat’ (merda na carne).
As tramas paralelas focam os demais envolvidos na cadeia produtiva: um grupo de mexicanos que migram ilegalmente para trabalhar no frigorífico (entre elas a colombiana Catalina Sandino Moreno), funcionários da lanchonete, divididos entre o conformismo e a rebeldia, um fazendeiro que sabe demais (o veterano Kris Kristofferson) e um cínico diretor de lanchonete (Bruce Willis).
Exploração de mão-de-obra ilegal e barata, maus tratos aos animais, despreocupação com procedimentos de higiene. Isso é o que aos poucos vai sendo retratado por Linklater, à medida que se desvenda a complexidade do processo que vai do abate dos bois à entrega do sanduíche na lanchonete. Porém, o diretor tem problemas para lidar com essa complexidade e, em dado momento, se perde na narrativa, espatifada e cada vez mais desinteressante.
As tramas que deveriam ser paralelas se mostram fragmentadas demais. Falta correlação não apenas entre os personagens, mas entre suas histórias, que poderiam ao menos ser mais integradas e concentradas. Um exemplo é a longa e enfadonha participação de Ethan Hawke, como o tio politizado de uma funcionária da rede fast food. Seu personagem parece ter caído de pára-quedas, mais para reviver o marcante protagonista de ‘Antes do Amanhecer’do que acrescentar alguma coisa á história.
Além disso, ‘Nação Fast Food’ não se decide e abre mão justamente daquelas que seriam as duas principais armas para não cair no denuncismo barato: a contundência e a ironia. O filme fica sempre no meio-termo, uma hora arrancando um risinho do espectador, outra hora jogando-lhe imagens impactantes. Não deixa de ter sua força, mas com um pouco mais de coesão poderia colher resultados bem mais significativos.

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