sábado, 19 de março de 2011

Na trilha de Casablanca



Steve Soderbergh é daqueles diretores cujo status lhe permite transitar tanto entre o mainstream, com blockbusters do porte de ‘Onze Homens e um Segredo’ (e suas duas seqüências), como em projetos mais pessoais, direcionados a um público mais seleto. É o caso, por exemplo, de ‘O Segredo de Berlim’, que se não era para ser tão alternativo, acabou se tornando forçosamente, tanto que nem chegou aos cinemas brasileiros e foi diretamente para as prateleiras das videolocadoras. Culpa do fracasso de público e crítica no circuito norte-americano.
Percebe-se facilmente que ‘O Segredo de Berlim’ é um trabalho particular do diretor, preocupado mais em homenagear o cinema do que tentar atrair grandes plateias. Sua intenção foi rodar um filme nos moldes das produções dos anos 40, tendo o clássico ‘Casablanca’ como principal fonte de inspiração. Tudo é feito com esse objetivo, desde a fotografia em preto e branco e a trilha sonora, até o roteiro combinando uma trama de assassinato com elementos românticos.
Jacob Geismer (George Clooney) é um jornalista que desembarca em Berlim após o término da Segunda Guerra Mundial para cobrir a Conferência de Paz de Postdam. Seu motorista, Tully (Tobey Maguire), é um soldado cafajeste que acaba levando-o a Lena Brandt (Cate Blanchett), prostituta que teve um caso com o jornalista no passado. Quando Tully é assassinado, Jacob e Lena mergulham em uma intricada trama que envolve romance, questões políticas e interesses misteriosos.
‘O Segredo de Berlim’ deve ser visto de duas formas. Na primeira, como homenagem a um estilo de cinema que fez sucesso no passado e se tornou referência para Hollywood, o filme funciona muito bem. A belíssima fotografia, com suntuosos efeitos de luz e sombra, a trilha sonora pomposa, até mesmo os créditos iniciais e a montagem, tudo remete a uma produção da primeira metade do século 20. Além de uma eficiente direção de arte, Sorderbergh recorre a imagens de arquivo do pós-guerra para reconstruir com precisão o cenário daquela época.
Agora, vamos à segunda e problemática parte. Talvez o diretor tenha se preocupado tanto em recriar um espetáculo visual que se esqueceu do conteúdo. O roteiro de ‘O Segredo de Berlim’ é fraco, pouco convincente e não ajuda a prender o interesse do espectador. Em sua maioria, as diversas reviravoltas da história são previsíveis e o romance entre os personagens principais não engrena em momento algum. Os atores colaboram para isso: Clooney até funciona bem com seu estilo Cary Grant, mas Blanchett, que já mostrou ser excelente atriz, parece totalmente deslocada em seu papel. Imagine então Tobey Maguire, um ator medíocre, fazendo as vezes de canastrão.
A impressão que dá é que Sorderbergh acabou tropeçando na sua pretensão, esperando realizar um filme para arrebatar críticos e cinéfilos, mas cujo resultado final vale apenas como produto estético. É como aqueles gigantescos bolos de casamento, que fazem arregalar os olhos e encher a boca d’água, mas que após experimentar um pedaço você não sente gosto nenhum.

Nenhum comentário:

Postar um comentário