terça-feira, 22 de março de 2011

Sangue, mulheres e zumbis



É curioso o efeito que o tempo exerce sobre determinadas obras. No passado, alguns gêneros cinematográficos eram vistos com desdém e preconceito pelos críticos, como os filmes de terror B, os western ‘spaghetti’ e mesmo as pornochanchadas brasileiras. Hoje, essas mesmas produções são objeto de culto por parte de cinéfilos e cineastas, que nelas buscam algumas referências para a produção atual. A dupla Robert Rodriguez e Quentin Tarantino nunca escondeu sua adoração pelo cinema trash dos anos 60 e 70, tanto que produziu uma homenagem explícita a esse gênero com o longa ‘Grindhouse’. Por enquanto, já é possível saborear a primeira parte dessa empreitada, ‘Planeta Terror’, dirigida pelo mexicano Rodriguez.
Quando conceberam ‘Grindhouse’, Rodriguez e Tarantino filmaram duas histórias independentes, mas com a mesma proposta: prestar uma homenagem aos filmes B da década de 70 em sua essência, com direito a negativos arranhados, partes de filme perdidas intencionalmente e falsos trailers. A intenção era exibir um único longa, reproduzindo as sessões duplas da época, mas o mau resultado nas bilheterias americanas fez com que os filmes fossem lançados separadamente no exterior. No Brasil, ‘Planeta Terror’ desembarcou primeiro, com a previsão de que ‘À Prova de Morte’ (episódio de Tarantino) chegue a nossos cinemas ainda este mês.
A exemplo das produções homenageadas, ‘Planeta Terror’ não tem muita história. Em uma base militar, um gás tóxico que transforma as pessoas em zumbis é lançado no ar. Em poucas horas, a cidade estará tomada por mortos vivos sedentos por sangue. Para tentar colocar ordem na casa, forma-se um grupo que tem entre seus integrantes um casal de médicos psicóticos, uma ex-dançarina de boate, seu namorado misterioso, o xerife local e seu irmão churrasqueiro.
Que o espectador não espere uma homenagem estilizada, a exemplo do que fez Tarantino em ‘Kill Bill’. Rodriguez recria na essência o estilo trash da época, se apropriando do maior número de clichês possível. São tiros, explosões, litros de sangue jorrando, criaturas repugnantes, mulheres nuas, diálogos sem profundidade e atuações esbanjando canastrice. O que garante a marca do cineasta mexicano são as tiradas sarcásticas e o humor negro, presente quando menos se espera.
Há quem conteste o estilo de Robert Rodriguez, acusando-o de ser uma espécie de Tarantino frustrado, que vive à sombra de seu colega. Com estética e narrativa que se aproximam do cultuado diretor de ‘Pulp Fiction’, o mexicano não domina com a mesma habilidade a confecção de afiados diálogos. Pode até ser verdade, porém, é inegável seu talento para produzir diversão pura, sem toques de genialidade, mas com uma boa dose de inventividade.
Para quem sabe apreciar o admirável mundo trash, ‘Planeta Terror’ tem elementos preciosos. O falso trailer de abertura, a trilha sonora envolvente e a personagem que implanta uma metralhadora como prótese na perna amputada já valem a empreitada. Claro, desde que você esteja à procura de diversão sem maiores responsabilidades.

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