quinta-feira, 24 de março de 2011

Humor no piloto automático



Após mais de duas décadas colecionando admiradores, concebendo pequenas obras-primas e mantendo quase sempre a linha independente que os caracteriza desde o início da carreira, os irmãos Joel e Ethan Coen alcançaram o céu em 2008. A consagração de ‘Onde os Fracos Não Têm Vez’ no Oscar foi a recompensa para uma dupla de diretores que sempre manteve um trabalho acima da média e jamais se desviou de suas concepções cinematográficas. Seria justo que após o reconhecimento dessem uma relaxada, afrouxassem o cinto e entregassem ao público um trabalho menos complexo e mais descontraído, típico de quem decidiu apenas se divertir um pouco. O resultado é ‘Queime Depois de Ler’, que tinha tudo para ser um grande filme, mas na fase em que foi realizado, torna-se apenas interessante.
Como que imaginando a glória da qual desfrutariam meses depois de iniciar as filmagens, os Coen se cercaram de um elenco estelar: John Malkovich, George Clooney, Brad Pitt, Tilda Swinton e Frances McDormand. O roteiro deixava de lado o tom sombrio e amargo de ‘Onde os Fracos Não Têm Vez’ para retornar à comédia de erros, gênero que rendeu alguns dos melhores momentos da carreira dos diretores. Claro que não aquele tipo de comédia ao qual o grande público está acostumado, mas o humor negro que seus fãs conhecem, capaz de arrancar risos das situações mais inesperadas.
A trama é um tanto rocambolesca, o que também já é tradicional. O ex-agente Osborne Cox (John Malkovich) é dispensado da CIA e resolve escrever um livro de memórias. Sua esposa Katie (Tilda Swinton) não está nem aí porque mantém um caso com o investigador federal Harry (George Clooney), que, por sua vez, é misteriosamente observado o tempo todo. Em outra ponta estão Linda (Frances McDormand), instrutora de academia cujo sonho é realizar uma série de cirurgias plásticas e encontrar um namorado decente, e seu abobalhado colega de trabalho Chad (Brad Pitt).
As duas pontas se ligam quando um CD com as memórias de Osborne cai nas mãos de Linda e Chad. Acreditando se tratar de segredos internacionais bombásticos, a dupla vê naquilo uma oportunidade de conseguir uma bolada em dinheiro. Mas, como os Coen não costumam ser muito generosos com o destino de seus personagens, as coisas não saem como o planejado. Disso resulta uma sequência de eventos inesperados, onde a morte inevitavelmente irá se fazer presente.
Se a habilidade em lidar com essa espiral da desgraça sempre foi uma marca dos diretores, em ‘Queime Depois de Ler’, a impressão é de que dessa vez eles ligaram o piloto automático. Entre momentos realmente criativos e engraçados, há sequências entediantes e diálogos pouco inspirados. O elenco se mostra muito à vontade, em especial o trio masculino, mas a impressão que dá é que eles se divertiram muito mais nas filmagens do que o espectador com o resultado na tela. A meia hora final é que empolga definitivamente, por isso a sensação de que os diretores poderiam ter se empenhado um pouco mais. De todo modo, 30 minutos de seu bom cinema já são uma boa recompensa.

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