quinta-feira, 24 de março de 2011

Da intriga à frustração



Tinha tudo para ser ao menos um bom filme. Na direção Ridley Scott, que apesar de seus altos e baixos, é sempre um nome a ser respeitado, dadas algumas de suas produções memoráveis. Como protagonistas dois dos mais interessantes nomes da atualidade: Leonardo DiCaprio, que a cada dia mostra mais amadurecimento como ator, e Russel Crowe, sempre eficiente com seu jeito de galã à moda antiga. O roteiro, assinado por William Monahan (do premiado ‘Os Infiltrados’), mergulha em temas palpitantes como a política militar norte-americana, a intervenção no Oriente Médio e a crescente ameaça terrorista. Então por que, apesar de tudo isso, ‘Rede de Mentiras’ não funciona?
Ridley Scott é um cineasta bastante irregular, mas na minha mente e, acredito que na da maioria dos cinéfilos, a imagem que ficará sempre é a do diretor das obras-primas ‘Blade Runner’ e ‘Alien – O 8º Passageiro’. Até mesmo seu filme anterior, ‘O Gangster’, renovou meus ânimos, resgatando uma desenvoltura que não via há muito tempo. Era de se esperar, portanto, que ‘Rede de Mentiras’ trouxesse pelo menos alguma coisa marcante, algo que não deixasse o diretor cair novamente no esquecimento.
DiCaprio é Roger Ferris, jovem agente da CIA infiltrado no Oriente Médio, cuja missão é desarticular organizações terroristas. Seu estereótipo é o do herói durão, sedutor, mas que ainda guarda consigo uma ponta de humanidade. Seu superior é Edward Hoffmann (Crowe), homem de meia-idade, frio e fleumático, que coordena operações de guerra ao telefone enquanto cuida dos filhos em casa. Dois estilos opostos, no temperamento e no modo de pensar. Ao mesmo tempo em que unem forças, os dois expõem suas diferenças na intricada missão de descobrir e derrubar um líder terrorista que vem promovendo atentados em todo o planeta.
O que era para ser o ponto forte de ‘Rede de Mentiras’ acaba sendo seu comprometedor. O roteiro, à primeira vista, se mostra um pouco complexo, abarcando estratégias e políticas de combate ao terrorismo, com sua linguagem peculiar e ramificações geográficas. Alguns minutos de filme e um olhar mais atento, porém, revelam um tratamento superficial, que enche a tela de personagens e diálogos cifrados, sem traduzir as dimensões do conflito abordado.
Scott usa um expediente já aplicado em outro equívoco de sua carreira, ‘Falcão Negro em Perigo’. Ao abordar a Guerra do Golfo naquele filme, o diretor construiu uma sequência de conflitos, tiros e explosões tecnicamente impecáveis, mas que não chegava a lugar algum. O espectador era envolvido pela adrenalina do campo de batalha, deixando de pensar no que de fato estava ocorrendo ali. ‘Rede de Mentiras’ tem cenas de ação de tirar o fôlego, mas os pontos de interrogação que coloca soam um tanto ingênuos e gratuitos.
Não é um filme desprezível, até pode funcionar como diversão um pouco mais inteligente. Entretanto, de Ridley Scott esperamos sempre algo marcante, que fique gravado na retina e na memória. Infelizmente, ‘Rede de Mentiras’ é apenas esquecível, nada além disso.

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