domingo, 27 de março de 2011

Claustrofobia em 3D


James Cameron e seu ‘Avatar’ inauguraram uma nova era no cinema de entretenimento: a dos filmes em 3D. Para esse segmento, não é necessário se dar ao trabalho de bolar uma grande história, criar personagens interessantes e envolver o espectador com uma narrativa mais elaborada. Seu protagonista é o visual. Transportar as pessoas para um ambiente em três dimensões nesses casos está à frente de qualquer outro ingrediente artístico ou criativo. Nessa safra, o mais recente produto a chegar por aqui é ‘Santuário’, aventura que tem como atrativo maior colocar a plateia presa em uma caverna e submersa na água.
Naquelas tendências que se formam não se sabe se intencionalmente ou por acaso, o cinema norte-americano vive um momento de exaltação à claustrofobia. Começou com ‘Enterrado Vivo’, lançado no ano passado, que acompanha a angústia de um sujeito que se vê preso dentro de um caixão embaixo da terra. Nos próximos meses segue com ‘127 Horas’, indicado ao Oscar, que recria a história real de um alpinista preso entre rochas. Entre eles temos ‘Santuário’, que se utiliza do 3D para sufocar ainda mais seu público.
Baseado em uma história real e sem grandes estrelas, a produção retrata uma equipe de mergulhadores que se mete a explorar uma caverna gigantesca na Papua Nova Guiné. Surpreendidos por uma violenta tempestade, os exploradores ficam presos dentro da caverna, buscando meios de deixar o local. O roteiro é o mesmo de centenas de filmes que você já viu por aí, não acrescentando em nada para quem espera uma história minimamente interessante.
Pense em todos os chavões possíveis e eles estão lá. O pai e o filho que, após uma vida inteira de conflitos, vão se reconciliar na busca pela sobrevivência; o aventureiro metido a corajoso; a garota frágil e o expert recalcado. Personagens rasos, cujo único propósito é emitir diálogos repetidos e dar amparo a todas as situações previsíveis desde os primeiros minutos de projeção.
Logo, o que ainda resta em ‘Santuário’? Claro, a tecnologia. Se até pouco tempo atrás não haveria qualquer motivo para recomendar uma bomba como essa, dessa vez o sistema tridimensional ao menos cria um diferencial. Vistas no 3D, as imagens subaquáticas realmente impressionam e reforçam a sensação de angústia que o diretor Aliston Grierson quis compartilhar com seus personagens. Em alguns momentos parece que temos de nos contorcer para ultrapassar uma fenda estreita ou controlar a respiração para não se afogar.
Isso tudo, porém, ainda é pouco para quem aprecia cinema de verdade. Como escrevi anteriormente sobre ‘Avatar’, fazer cinema é, antes de tudo, saber contar uma história. E não há tecnologia no mundo que compense a ausência de um bom narrador. Ferramentas como 3D e outras que estejam por vir serão sempre bem vindas como forma de atrair o público e renovar fórmulas que estão cada vez mais desgastadas. Mas quando elas passam a substituir o autor e os princípios básicos da cinematografia, há motivos para se colocar uma ou até duas pulgas atrás da orelha.

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