sábado, 12 de março de 2011

Para crianças e adultos

Wes Anderson é um dos cineastas mais talentosos e cultuados da atual geração. Seus filmes têm como marca registrada histórias familiares protagonizadas por personagens excêntricos, acompanhadas de extremo apuro visual. Sua produção mais recente guarda as mesmas características. É a história de um pai de família com propensão ao roubo, que ao ceder à tentação coloca em risco a comunidade onde vive e sua estrutura familiar. Normal, não fosse por um detalhe: os protagonistas são raposas que falam e agem como seres humanos.
‘O Fantástico Sr. Raposo’ é a primeira incursão de Wes Anderson ao cinema de animação. Em parceria com outro diretor cultuado, Noah Baumbach (de ‘A Lula e a Baleia’), ele adaptou o clássico livro infantil ‘Raposas e Fazendeiros’, de Ronald Dahl (mesmo autor de ‘A Fantástica Fábrica de Chocolates’). Como não poderia deixar de ser, o diretor tomou a liberdade de promover algumas mudanças na história, colocando novos elementos bem ao seu estilo. Nada que comprometa, muito pelo contrário, só tornam o filme ainda mais divertido.
O filme começa com o último roubo do Sr. Raposo (dublado pelo galã George Clooney), que ao saber que será pai, assume o compromisso de deixar a vida do crime. Tempos depois, ele se tornou colunista de um jornal e vive sossegadamente em uma árvore com a esposa, a Sra. Raposo (Meryl Streep) e o filho Ash (Jason Schwartzman). Entediado com a nova profissão e sem conseguir controlar o impulso criminoso, ele vê a possibilidade de promover um grande roubo nas três fazendas da vizinhança. Claro, escondido aos olhos da esposa.
A principal novidade acrescida à história é a que justamente imprime a marca maior de Wes Anderson: o conturbado relacionamento entre pai e filho. Seus três últimos filmes tinham como mote principal os entraves na relação paternal. Aqui, o desajeitado Ash sonha em ser um atleta, mas quem ganha a atenção do pai é o primo Kristofferson, bonito e talentoso. A relação estremece ainda mais com as conseqüências do roubo planejado pelo Sr. Raposo, que também acabam por afetar toda a comunidade local.
Em contraponto ao 3D, cada vez mais popular, ‘O Fantástico Sr. Raposo’ usa a técnico do stop motion, que consiste em filmar quadro a quadro para colocar a imagem em movimento. O cuidado da produção (que também pode ser conferido nos extras) é impressionante. Como um cineasta que adora moldar suas imagens com toda a riqueza de detalhes, Wes Anderson parece se ver ainda mais à vontade para construir as cenas. O resultado visual é encantador: se não tem a fidelidade da animação em três dimensões, apresenta uma riqueza artesanal igualmente interessante.
‘O Fantástico Sr. Raposo’ se enquadra naquele velho chavão do filme para divertir adultos e crianças. Os mais crescidos irão se deliciar com a estética, os diálogos bem sacados e a trilha sonora, que inclui pérolas da música pop. Os pequenos, por sua vez, não terão dificuldade em acompanhar a história e vão se divertir com os personagens altamente carismáticos. Diferentemente de outros cineastas de sua geração, Wes Anderson demonstra sempre ter uma boa surpresa reservada para nós.

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