quinta-feira, 17 de março de 2011

Incômodo e realista


Há quem faça cinema para divertir e quem faça para incomodar. O que o diretor Noah Baumbach propõe ao espectador definitivamente não é entretenimento fácil, conforme pôde ser verificado em seu primeiro filme, o estranho ‘A Lula e a Baleia’. Sua segunda produção, ‘Margot e o Casamento’, foi ainda menos notada pelo público e pela critica, apesar do elenco liderado pelos estelares Nicole Kidman e Jack Black. Tanto que no Brasil desembarcou diretamente nas videolocadoras, sem passar pelas telas de cinema. Culpa talvez do estilo a que se propõe o cineasta, de causar desconforto com histórias de um cotidiano amargo.
Ok, essa fórmula não é nenhuma inovação e já foi experimentada de maneira bem sucedida por diretores como Todd Solondz (‘Felicidade’) ou Todd Field (‘Pecados Íntimos’). Acontece que Baumbach segue uma linha mais crua, realista, se situando mais próximo do cinema de arte europeu que das produções independentes norte-americanas.
Em ‘Margot e o Casamento’, vemos a personagem que dá nome ao filme (Nicole Kidman), acompanhada do filho adolescente, se dirigir ao encontro da irmã mais nova, Pauline (Jennifer Jason Leigh), que está prestes a se casar. Seu noivo é Malcolm (Jack Black), um ‘loser’ desempregado e depressivo. Apesar da aproximação das irmãs, Margot desaprova o casamento, o que é apenas o estopim para uma série de desavenças familiares que virão (e voltarão) à tona nesse curto período de convivência.
Relacionamentos em crise e suas conseqüências são a especialidade de Baumbach. Em ‘A Lula e a Baleia’, o centro dos acontecimentos era o divórcio de um casal de intelectuais e a dificuldade dos filhos em lidar com isso. Em ‘Margot e o Casamento’, a tônica não é muito diferente. A personagem do título está disposta a se separar, mas não tem coragem de contar ao filho. Pauline, por sua vez, está grávida, gosta de Malcolm, mas esconde a revelação o máximo que pode. Situações que se sucedem em milhares de famílias e que o diretor não faz nenhuma questão de romancear.
Com um tratamento cru, de muita câmera na mão e ausência quase completa de trilha sonora, ‘Margot’ é um filme de personagens e, conseqüentemente, dos atores que lhes dão vida. Nisso, o diretor acertou a mão na escolha do elenco. Nicole Kidman compõe quase uma vilã: uma mãe fria e pouco sensível, criadora de intrigas e controladora. Jennifer Jason Leigh é o oposto, uma pessoa frágil e desnorteada. Já o fanfarrão Jack Black surpreende em um papel sério e difícil, mostrando uma versatilidade não vista até então.
Diferentemente de outros conterrâneos, Baumbach não usa de ironia ou apela para bizarrices. Seu cinema é essencialmente realista, como é raro encontrar em produções dessa envergadura. Há um tom predominante de amargura, desesperança e desolação. É o tipo de filme que deve incomodar muita gente, por isso não é palatável às grandes massas. Confesso que também me senti incomodado, o que não quer dizer que seja um problema. Às vezes o cinema precisa de alguém para aplicar choques de realidade.

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