quinta-feira, 17 de março de 2011

Violência pouca é bobagem


O cinema também é feito de bobagens e tolo daquele que não sabe aproveitá-las. Quando digo bobagem, estou me referindo exatamente àquele filme para o qual você deixa o cérebro na entrada do cinema, se arma de um grande pacote de pipoca e gasta alguns minutos com risos e altas doses de adrenalina. Como resistir, por exemplo, a bobagens como ‘As Panteras’ ou ‘Serpentes a Bordo’? Pois bem. ‘Mandando Bala’ nasceu justamente com esse propósito, de garantir diversão a espectadores sem maiores exigências. Pena que, apesar de algumas boas ideias, resulta em uma bobagem no sentido mais pejorativo da palavra: um filme bobo e só.
Confesso que a única referência que tenho do diretor Michael Davis é de que fez a comédia ‘100 Garotas’, logo não tenho condições de emitir nenhuma opinião sobre sua trajetória (que, convenhamos, não parece lá das mais expressivas). Fato é que, para ‘Mandando Bala’, ele conseguiu reunir um trio de atores de primeira linha: o canastrão Clive Owen, o ótimo Paul Giamatti e a estonteante Mônica Belucci. Independente do que viesse a seguir, já seria um bom começo.
A premissa também parece ser interessante. Owen é o Sr. Smith, sujeito que está na dele em uma rua deserta quando vê cruzar à sua frente uma mulher grávida perseguida por alguém que deseja matá-la. Não podendo ficar indiferente a tal cena, vai proteger a moça indefesa, que logo dá à luz seu bebê. Em poucos minutos, dezenas de homens armados, liderados por Hertz (Giamatti), estão no seu encalço, dispostos a matar a criança. Quando a mãe do menino é morta, Smith encara a missão de protegê-lo e, junto com a prostituta DQ (Belucci), descobrir porque ele é tão caçado.
Na verdade, tudo para o espectador é mistério: quem é esse tal Sr. Smith? Por que bandidos querem matar o bebê? Qual a relação de Smith com DQ? No fim das contas, isso importa menos do que a seqüência de tiroteios, brigas e tiradas sarcásticas que se estendem por aproximadamente uma hora e meia. Como havia dito, não é um filme para se pensar, apenas para assistir. Mas isso também não é desculpa para que se fizesse um roteiro tão frouxo.
‘Mandando Bala’ exala violência, de todos os tipos: estilizada, gratuita e sarcástica. Sobram corpos alvejados por balas, membros decepados e formas bizarras de assassinato (até mesmo uma cenoura é usada como arma). Aí reside o grande problema do filme. Ao invés de explorar um pouco mais as tiradas irônicas dos personagens e as seqüências de ação coreografadas à la John Woo, o diretor preferiu promover um banho de sangue exagerado para satisfazer adolescentes aficcionados por videogames.
Mais triste é notar as boas sacadas que o diretor tinha em mente, como o tom cartunesco e a ironia cortante. O personagem de Owen está sempre comendo uma cenoura, numa clara referência ao personagem Pernalonga, e perde a linha quando um motorista joga lixo pela janela do carro. São idéias como essas que poderiam fazer de ‘Mandando Bala’ um filme bem mais divertido e sagaz, seguindo a linha de ‘Adrenalina’, por exemplo. Mas quando a violência excessiva se sobrepõe ao bom humor, resta apenas o sentimento de tédio e frustração.

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