terça-feira, 22 de março de 2011

Para turista ver e gostar



O problema maior de se apreciar filmes coletivos é que é praticamente impossível avaliá-los como uma obra única. Como é natural quando se reúnem diversos artistas, com visões e estilos diferentes, a inconstância acaba por se tornar quase que uma regra. Gosta-se mais de um, menos de outro, mas nada que impeça de saborear tais produtos com requinte, a exemplo de uma boa coletânea musical. Há de se convir que reunir 18 cineastas em uma única empreitada é uma ação de risco. Nesse caso, o saldo de ‘Paris, Te Amo’ é bastante positivo, com os altos se sobressaindo aos baixos, resultando em um filme, no mínimo, simpático.
A proposta era reunir 18 diretores de diferentes nacionalidades para que cada um desenvolvesse uma história de cinco minutos tendo a charmosa capital francesa como cenário. Cada curta é passado em distrito da cidade. Ao lado de nomes franceses pouco conhecidos, foram relacionados autores como o alemão Tom Tykwer (‘Corra, Lola, Corra’), o mexicano Alfonso Cuarón (‘E Sua Mãe Também’), o norte-americano Gus Van Sant (‘Elefante’) e o nosso brasileiro Walter Salles. Pela tela desfilam astros como Natalie Portman, Nick Nolte, Juliette Binoche, Elijah Wood e Bob Hoskins, entre outros.
Entre 18 curtas, há alternativas para todos os gostos. A maioria delas relacionadas a histórias de amor (nas mais diversas faixas etárias), mas também há espaço para comédia, drama social e até um conto de terror. Como já havia anotado, o resultado é irregular, com alguns episódios brilhantes e outros desinteressantes. Mas como se tratam de histórias bastante curtas, que vão alternando ritmos e estilos diferentes, não há tempo para que o espectador caia no tédio.
De minha parte, tenho três episódios como os meus preferidos. Um deles é o dirigido pelos irmãos Joel e Ethan Coen, que, bem ao seu estilo, mostra de forma hilária a enrascada em que um turista norte-americano (o sempre eficiente Steve Buscemi) se envolve numa estação de metrô. Outro é o de Tom Tykwer, que narra o romance entre uma aspirante a atriz e um deficiente visual. Com seu ritmo acelerado, vai agradar aos fãs do cinema estilo videoclipe. Por fim, a cereja do bolo fica para o último episódio, dirigido por Alexander Payne (‘Sideways’). A descoberta de Paris por uma turista americana de meia-idade é de um bom humor e sensibilidade incomparáveis.
Na outra ponta, causou-me decepção o episódio de Walter Salles, em que uma babá latino-americana (a colombiana Catalina Sandino Moreno) atravessa a capital francesa para ganhar seu sustento. Não apenas por ter um tom diferenciado do restante do filme (mais obscuro em contraste com o romantismo predominante), mas pela temática batida e conservadora. Também não empolgam os episódios do japonês Nobuhiro Suwa, que traz o drama de uma mulher incapaz de esquecer o filho morto, e o do italiano Vincenzo Natali, um mal-resolvido conto sobre vampirismo.
Há quem diga que ‘Paris Te Amo’ não passa de uma bobagem para turista ver, um punhado de histórias banais usadas como pretexto para vender a capital francesa. Pode até ser, mas, sem dúvida, uma deliciosa bobagem, daquelas para as quais vale a pena dedicar duas horas, sair com um sorriso estampado no rosto e planejando algumas férias futuras.

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