sábado, 12 de março de 2011

Marcas da genialidade

Um dos melhores (senão o melhor) lançamentos em DVD deste até aqui esquecível ano de 2010 tem mais de 40 anos de idade. Três filmes que, juntos, somam mais qualidades que toda a produção cinematográfica dos últimos dois anos. Se hoje você acha Quentin Tarantino o maior gênio ou se ajoelha aos pés de Martin Scorsese, é bom antes conhecer um italiano que atende pelo nome de Sergio Leone. Para iniciar com ele uma digníssima aula de cinema, nada melhor de que partir de uma caixa lançada recentemente, com os três filmes que alçaram o diretor ao estrelato, agora remasterizados.
Conhecida como Trilogia dos Dólares ou Trilogia do Homem Sem Nome, a série de filmes revelou para o mundo, além de Leone, um jovem ator norte-americano à época, que atendia pelo nome de Clint Eastwood. Com eles, um gênero que foi alvo de discriminação durante anos e hoje é objeto de culto: o western spaghetti. Enquanto nos Estados Unidos John Wayne protagonizava filmes suntuosos e de grande sucesso, na Itália o faroeste ganhou condições menos nobres: eram produções de baixo orçamento, com personagens dúbios e histórias mais violentas e torpes que as contadas por Hollywood.
Em 1964, Leone decidiu ingressar no gênero e, com poucos recursos, chamou um Eastwood em início de carreira. Surgia ali ‘Por um Punhado de Dólares’ e com ele um personagem cujo estigma o ator carrega até hoje: o sujeito misterioso, calado, frio e objetivo. No caso, um pistoleiro sem nome que chega a uma pequena cidade do México dividida pela rivalidade de duas famílias. Astuto, investe nos dois lados para tirar o maior lucro possível do confronto.
Com o sucesso do primeiro filme, em 65 é lançado ‘Por uns Dólares a Mais’, que traz novamente Eastwood no papel principal, agora acompanhado de outro futuro astro norte-americano: Lee Van Cleef, o célebre ‘Kung Fu’ do seriado televisivo (se você tem menos de 30 anos deixe para lá). Os dois são pistoleiros que, por motivos diferentes, se unem para capturar um fugitivo, vivido pelo italiano Gian Maria Volonté. É o mais fraco dos três filmes, mas ainda assim, está longe de ser ruim.
Por fim, chegamos a 66 e à obra-prima da série, ‘Três Homens em Conflito’. Novamente estão lá Eastwood e Van Cleef, que agora ganham a companhia de Eli Wallach, outro conhecido ator americano. Cada um representa um dos três personagens do título original, ‘The Good, the Bad and the Ugly’ (o bom, o mau e o feio). Três pistoleiros com histórias diferentes, mas que têm o mesmo objetivo: encontrar uma fortuna em ouro deixada por um homem que morreu. A cena do duelo final é uma das mais célebres e arrebatadoras da história dos westerns.
A narrativa dividida, os enquadramentos tensos, a montagem ágil, que contrasta com a paciência na construção de cada cena, são marcas da genialidade de Leone, um legado absorvido por vários cineastas contemporâneos. Embaladas pela indefectível trilha sonora de Enio Morricone, são cenas que merecem ser apreciadas com o máximo de prazer e reverência. E daí, quem sabe, partir para outra obra prima do diretor, ‘Era Uma Vez no Oeste’. Mas aí já é outra história...

Nenhum comentário:

Postar um comentário