sexta-feira, 18 de março de 2011

Cinematografia monstro



Em tempos de globalização, o acesso a cinematografias dos mais diversos confins do mundo vem se tornando cada vez mais fácil. Prova disso é que periodicamente a produção de determinado país vira coqueluche entre os cinéfilos. Já tivemos o humanismo chinês, o lirismo iraniano, o realismo argentino e o terror japonês. A bola da vez agora é a Coreia do Sul, cujas obras inventivas, assinadas por diretores de nomes complicados, vão ganhando espaço nos festivais internacionais e, aos poucos, nas telas brasileiras. O carro-chefe dessa invasão coreana é ‘O Hospedeiro’, mistura de terror e comédia que se tornou o maior sucesso de público da história daquele país.
A bem da verdade, classificar ‘O Hospedeiro’ como uma simples mistura de terror e comédia é um tanto quanto simplista, injusto até. A definição que melhor me veio à mente foi um misto de ‘Godzilla’, ‘Alien’ e ‘Pequena Miss Sunshine’. Com tudo de positivo que isso possa significar. A princípio é um ‘filme de monstro’, tal qual aqueles que os próprios orientais popularizaram no século passado. Mas por trás do argumento simples estão altas doses de comédia rasgada, crítica política, drama humano e, claro, suspense.
O filme começa em um laboratório, onde cientistas americanos despejam litros de produto químico no rio Han, o principal da capital Seul. Em pouco tempo surge a conseqüência catastrófica de tal desleixo: um imenso e repugnante monstro sai das águas do rio, atacando a população e causando estragos. Uma das vítimas é a caçula de uma família desajustada que mantém um trailer às margens do rio. Ao descobrirem que a garota continua viva em um esgoto, os familiares partem para uma inusitada e desesperada operação de resgate.
Diferente do que se possa imaginar, o foco principal não está no monstro, mas no núcleo familiar. Dele fazem parte o velho proprietário do trailer e seus três filhos: o mais velho, pai da garota desaparecida, é imaturo, atrapalhado e ridicularizado por todos. A filha do meio é uma atleta que consegue perder de maneira bisonha uma medalha de ouro. O mais jovem, por fim, bêbado e desempregado. Em resumo, um bando de losers que, cheios de defeitos e desavenças, terão a missão de salvar a humanidade.
Com essa fórmula simples, mas inteligente, o diretor Joon-ho Bong faz um legítimo ‘filme de monstro’ como há muito tempo não se via. Não apenas pelas cenas de ação e tensão, dignas dos melhores exemplares do gênero. Mas principalmente porque consegue fugir do convencional, conciliando humor e drama sem forçar a barra. Além dos momentos hilariantes e dramáticos obtidos com as peripécias da família desajustada, há ótimas pitadas de ironia e crítica quando são abordados os procedimentos governamentais (coreanos e norte-americanos) para tentar solucionar o problema.
‘O Hospedeiro’ é o título mais popular de uma safra que está chegando devagar ao público brasileiro (muito mais ao ponta-grossense), mas que promete belas recompensas para quem for atrás. Não é à toa que alguns dos principais cineastas da atualidade estão com os olhos voltados para o oriente. Ao menos para nós, amantes da sétima arte, essa tal globalização é mesmo uma bênção.

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