sexta-feira, 18 de março de 2011

Western contemplativo



Os frequentadores de cinema mais jovens podem nem conhecer o gênero western, que animou as matinês de muitos cinéfilos veteranos. Caubóis valentes e misteriosos, duelos ao pôr-do-sol, brigas em ‘saloons’ e tiroteios em que as balas nunca acabavam faziam parte de um estilo que produziu mestres como Sergio Leone, John Ford e Clint Eastwood. Os populares filmes de ‘bangue-bangue’ entraram em decadência na década de 70 e, a partir daí, jamais reconquistaram seus dias de glória. Ainda que numa linha diferenciada dos grandes clássicos, ‘O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford’ não deixa de ser um justo e belíssimo resgate do Velho Oeste no cinema.
Se existe uma lista com os bandidos mais famosos da humanidade, o nome de Jesse James certamente está entre eles. Ao lado do irmão Frank, ele se tornou famoso em todos os Estados Unidos no final do século 19 pela série de assaltos e assassinatos cometidos pelo país. Sua história foi parar nas páginas de livros e, posteriormente, povoou o imaginário de cineastas, que levaram para a tela grande os feitos de sua trajetória criminosa.
Numa época em que o faroeste se tornou um tanto quanto marginalizado, o diretor neozelandês Andrew Dominik decidiu resgatar a figura de Jesse James sob uma outra ótica. Baseado no livro homônimo de Ron Hansen, deixou de lado a trajetória de banditismo do personagem para focar seus últimos dias e as circunstâncias que levaram a seu fim trágico. ‘O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford’ mostra como respeito e admiração podem se converter rapidamente em rancor e decepção.
O filme abre com aquele que seria o último roubo dos irmãos James, o assalto a um trem. É quando Bob Ford (Casey Affleck, irmão mais novo e talentoso de Ben Affleck), jovem tímido e retraído, tem a oportunidade de participar do bando de Jesse James (Brad Pitt) e finalmente conhecer de perto aquele que foi seu ídolo desde a infância. James mantém com Ford um misto de confiança e desprezo, revelando uma personalidade que pouco condiz com a admiração nutrida por seu pupilo ao longo dos anos. O conturbado relacionamento entre os dois vai culminar no assassinato do título, cujas conseqüências também estarão longe de serem glorificantes.
Longe das produções convencionais do gênero, ‘O Assassinato de Jesse James’ está próximo do que poderíamos chamar de western contemplativo. O ritmo é arrastado e poucos tiros são disparados ao longo das duas horas e meia de filme. Ao invés de utilizar armas, o duelo travado entre os personagens principais é psicológico. A tensão que corta a história até seu desfecho se mantém graças ao desempenho magistral de Pitt e Affleck. Enquanto o primeiro vive um bandido instável, ora explosivo, ora introspectivo, o segundo expressa nos gestos e no tom de voz a amargura de alguém incapaz de assumir uma personalidade própria.
Outro ponto forte é a fotografia de Roger Deakins, indicada ao Oscar deste ano. Com locações em belíssimas paisagens, o filme traz cenas arrebatadoras, que seriam ainda melhor apreciadas em uma tela grande de cinema. Some-se a sombria trilha sonora de Nick Cave (que faz uma participação especial) e Warren Ellis e tem-se uma obra que, apreciada com calma, será das mais gratificantes.

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