domingo, 20 de março de 2011

A releitura do western


Para alguém do naipe e da originalidade dos irmãos Joel e Ethan Coen, resgatar um clássico do western como ‘Bravura Indômita’ soa de duas formas. Uma: a viabilização de um projeto pessoal, alimentado durante anos e possibilitada graças à consolidação da carreira da dupla. Outra: uma simples tentativa de conquistar o grande público e ganhar dinheiro. Quem sabe haja um pouco de cada coisa no projeto, mas a considerar pelo produto final, o mais recente filme dos diretores deixa dúvidas. Foi, de fato, o filme mais rentável dos 15 dirigidos pelos Coen. E o que menos tem a sua marca, ficando mais próximo das produções hollywoodianas em geral.
Após se consagrarem no Oscar de 2008 com o magistral ‘Onde os Fracos não têm Vez’, os irmãos Coen parecem ter embarcado numas férias com dois filmes fraquíssimos (‘Queime Depois de Ler’ e ‘Um Homem Sério’). ‘Bravura Indômita’, a refilmagem do faroeste de 1969 que deu o Oscar de melhor ator a John Wayne, se anunciava como uma tentativa de redenção dos diretores, munidos de um orçamento polpudo e de uma história já consagrada.
Chamá-la de refilmagem seria um tanto injusto, uma vez que o que os Coen fizeram foi readaptar para o cinema o livro de Charles Portis que deu origem ao primeiro filme. Por motivos óbvios, a estrutura narrativa e de personagens se aproxima da produção anterior, onde uma jovem garota contrata um pistoleiro beberrão (o oscarizado John Wayne) para vingar a morte do pai.
Na nova versão, o xerife Rooster Cogburn é vivido por Jeff Bridges, barbudo, com o indefectível tapa-olho e a fala arrastada de um texano que parece estar permanentemente bêbado. A jovem garota, Mattie Ross, é vivida pela novata Hailee Stainfield, formando uma dupla bastante afinada e que, com justiça, foi indicada ao último Oscar. Aos dois se junta outro pistoleiro, o Texas Ranger LaBoeuf (Matt Damon), empreendendo a caçada ao vilão Tom Chaney (Josh Brolin).
Há diferenças expressivas entre o filme de 1969 e o do século 21. Enquanto Henry Hathaway (diretor da primeira versão) usava o cenário dos faroestes clássicos, com um certo charme e romantismo, o velho oeste dos irmãos Coen está mais próximo dos western spaghetti, onde a índole dos personagens é permanentemente questionável. O colorido de antes deu lugar a uma maior aridez e aos tons cinzentos, criando um ambiente mais hostil e soturno. Mesmo os personagens secundários ganharam mais personalidade, sempre com aquela marca de estranheza e peculiaridade característica dos diretores.
Há grandes qualidades neste novo ‘Bravura Indômita’. Os diálogos bem elaborados, contrapondo a rabugice e o cinismo de Cogburn com a astúcia e a sagacidade de Mattie, formam o jogo perfeito para os diretores. A bela fotografia, desenvolvida nas paisagens áridas do Texas, também é um atrativo à parte. Mas falta a personalidade dos irmãos Coen. Tudo acaba sendo muito convencional, carente de surpresas e especialmente do peculiar senso de humor que torna mesmo seus piores filmes indefectíveis. Se virmos como apenas mais um filme, é interessante. Mas se considerarmos como uma obra dos Coen, não há como não esconder a ponta de decepção.

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