sexta-feira, 18 de março de 2011

Uma cidade, várias histórias



O que faz uma cidade ser tão apaixonante a ponto de merecer um filme dedicado exclusivamente a ela? Suas paisagens, seu caráter cosmopolita, seus habitantes, sua história ou as inúmeras histórias contadas todos os dias em seus diversos cantos... Nova York, por exemplo. O amor pela “cidade que nunca dorme” já foi escancarado por cineastas como Woody Allen e Martin Scorsese, que usaram-na quase que como a protagonista de muitas de suas obras. No ano passado chegou às telas ‘Nova York, Eu te Amo’, projeto desenvolvido nos mesmos moldes do que foi feito com Paris dois anos antes: um conjunto de pequenas histórias, dirigidas por diferentes cineastas, tendo ruas e pontos da cidade como cenário.
Talvez por nutrir um encanto particular pela capital francesa, ‘Paris, te Amo’ me conquistou. Mesmo diante da irregularidade entre as narrativas e de alguns chavões tipicamente para turista ver, o filme conseguia atingir uma consistência que garantia ao produto como um todo a identificação com a ‘cidade das luzes’. A tentativa de fazer o mesmo com Nova York, lamentavelmente, não surtiu o mesmo efeito. Não por culpa da cidade, que reúne elementos mil para se exibir às câmeras, mas pelo excesso de sintonia entre os diretores convidados para o projeto.
A escolha dos nomes quis transferir à produção o ar cosmopolita de Nova York. Lá estão o turco Fatih Akin, a indiana Mira Nair, o israelense Yvan Attal, o chinês Wen Jiang, o japonês Shunji Iwai e até mesmo os norte-americanos Brett Ratner e Natalie Portman. Cada um dirige um episódio, sempre trazendo um homem e uma mulher como protagonistas, desvelando alguma história sentimental nas ruas de Nova York. A atriz norte-americana Scarlett Johanson também estava entre as diretoras, mas teve seu episódio cortado da edição final por, segundo consta, destoar do restante da obra.
Isso ilustra perfeitamente o problema maior de ‘Nova York, Eu te Amo’. No filme sobre Paris, o charme maior estava na diversidade entre as histórias, que alternavam romance, comicidade, fantasia, crítica social, cada qual com uma personalidade própria. Neste sobre Nova York, tudo é muito linear. A impressão que se tem é que todos os episódios foram dirigidos pela mesma pessoa, com roteiros pré-moldados que se adaptam conforme os personagens (os quais também se assemelham em muitos casos).
Além disso, não há uma grande identificação com a cidade. Os cenários quase sempre são utilizados apenas como pano de fundo, já que as narrativas poderiam ser ambientadas em qualquer outra cidade, sem maiores consequências. Entre os episódios que mais se destacam estão o de Brett Ratner (sobre o envolvimento de um rapaz e uma garota na cadeira de rodas), Joshua Marston (protagonizado por um casal de velinhos) e Shekhar Kapur (com os veteranos John Hurt e Julie Christie). 
A sensação final depois de assistir a ‘Nova York, Eu te Amo’ é de plena frustração, pelo desperdício de uma boa ideia, de diretores e atores talentosos e de todo o potencial cinematográfico que guarda uma cidade como Nova York. A próxima parada é no Rio de Janeiro, espera-se que com mais inspiração.

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