sexta-feira, 25 de março de 2011

Engraçado, mas para poucos



‘Segurando as Pontas’ é mais um entre tantos filmes com a assinatura mais cool em termos de comédia no momento: Judd Apatow e Seth Rogen. A dupla se revelou como nova sensação no divertido ‘O Virgem de 40 Anos’, ao qual se sucederam o não menos engraçado ‘Ligeiramente Grávidos’ e seu melhor filme, o ótimo ‘Superbad – É Hoje!’. Sua fórmula nem é tão revigorante, apenas redistribui de forma inteligente as doses de humor politicamente incorreto, referências pop e sensibilidade. Com isso, consegue agradar tanto adolescentes em busca de riso fácil como pessoas de gosto mais exigente, que não acham graça em qualquer piada com peitos e bundas.
O fato é que, de todas as suas produções, ‘Segurando as Pontas’ é a menos acessível ao grande público. Tanto é que no Brasil sequer passou pelos cinemas, sendo lançada diretamente em DVD. A explicação mais plausível, que soa um tanto hipócrita e moralista, é de que toda a temática do filme gira em torno da maconha. O próprio título original, ‘Pineapple Express’, faz referência à droga. Menos mal que por aqui os distribuidores conseguiram elaborar um inteligente trocadilho para traduzi-lo.
Nas mãos de Apatow e Rogen (que cuidaram do roteiro ao lado de Evan Goldberg), a história tinha tudo para conduzir uma divertida comédia de erros. Dale Denton (Seth Rogen mais uma vez) é um cobrador que passa a maior parte do tempo chapado entre um cigarro de maconha e outro. Seu fornecedor é outro doidão, Saul Silver (James Franco), tão fora de si quanto ele. Ao testemunhar um assassinato, Denton passa a ser perseguido por bandidos e uma policial corrupta, contando com a ajuda do amigo para escapar. A pista que leva aos dois é um tipo raro de maconha usado por eles, a tal ‘pineapple express’.
Na direção de ‘Segurando as Pontas’ está o pouco conhecido David Gordon Green, que tem em seu currículo alguns dramas e romances, que em nenhum momento parecem se alinhar com o trabalho de seus roteiristas. Isso talvez explique em parte o não funcionamento do filme. Por incrível que pareça, não se vê muito a mão de Apatow e Rogen nos diálogos. Durante quase duas intermináveis horas de projeção, pergunta-se: onde estão as piadas semigrosseiras, as referências pop, os personagens simpáticos?
Em sua primeira parte o filme até que consegue divertir com algumas situações ao estilo ‘Cheech & Chong’, a famosa dupla de comediantes assumidamente chapada dos anos 70 e 80. Porém, as boas tiradas são raras e logo o espectador (ao menos o que esteja em estado normal) cansa da ‘viagem’ dos protagonistas. É quando a coisa degringola de vez, se resumindo a uma sucessão de perseguições, tiros e brigas encontráveis em qualquer filmeco de ação. 
A impressão que dá é que os roteiristas, provavelmente adeptos da famosa erva, resolveram levar para a tela algumas de suas experiências e se divertir com os amigos. Afinal, muitas das piadas têm graça apenas para quem conhece do assunto. Como disse o crítico Rubens Ewald Filho em uma de suas resenhas, a maior parte do filme só tem graça mesmo para quem está chapado.

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