terça-feira, 22 de março de 2011

Sexo verbal



Não considero Kevin Smith nenhum gênio da comédia, como algumas pessoas definem. Diria que é um cara simpático, que consegue fazer rir com seu humor desbocado, sem papas na língua e com múltiplas referências à cultura pop. Está longe de ser um ‘Woody Allen dos adolescentes’, como já li em algum lugar, mas é um cineasta cujo forte são os diálogos. Seu último filme, ‘Pagando Bem, Que Mal Tem?’, é um exemplo legítimo desse modelo: embora não esteja entre suas melhores ou piores produções, se sustenta enquanto desfere sua nocividade. Fora disso, é apenas mais uma comédia romântica boboca.
A premissa é bacana. Zach (Seth Rogen) e Miri (Elizabeth Banks) são amigos de infância, que moram juntos há anos, mas jamais tiveram qualquer envolvimento amoroso ou sexual. Na pendura total, com a água e a luz cortadas, têm uma ideia para ganhar dinheiro: produzir um filme pornô. Além dos dois, que protagonizarão uma cena de sexo ‘profissional’, contratam uma trupe de tipos amalucados para rodar e estrelar a produção.
O melhor de ‘Pagando Bem, Que Mal Tem?’ é sua referência à indústria pornográfica, um segmento cinematográfico que teve seus dias de ouro, mas acabou praticamente aniquilado pela internet. Os diálogos nos quais os protagonistas buscam um nome para o filme, fazendo trocadilhos com títulos de produções famosas, são hilários, principalmente para quem não depende das legendas. Os bastidores e as filmagens, que se dividem entre o supostamente profissional e a diversão, também rendem momentos divertidíssimos. Isso, claro, para quem não se incomoda em ouvir uma enxurrada de palavrões e piadas de gosto duvidoso.
Chegamos então ao ponto em que Kevin Smith sempre derrapa: quando lembra que não é mais um adolescente e precisa, de alguma forma, dar seu toque adulto à história. Quem acompanha seus filmes sabe que em dado momento eles se tornam totalmente previsíveis, se aproximando de comédias românticas xaropes. Ou alguém tem dúvidas sobre o que acontecerá com Zach e Miri? Apesar do tratamento terno e afetuoso com seus personagens, o diretor não consegue fugir das armadilhas dos clichês e, nesse caso, dá margem para um desfecho decepcionante.
De todo modo, Smith consegue desenvolver algumas boas sacadas brincando com o universo do cinema. Uma delas é a presença de Brandon Routh, que viveu o último Superman em 2006, na pele do namorado gay de um ator pornô. Também fazem parte do elenco Traci Lords, musa do cinema pornográfico das décadas e 70 e 80, e Katie Morgan, estrela da geração atual. E se não tem a dupla Jay e Silent Bob, presente em quase todos os filmes de Smith, Jason Mewes (o ator que interpreta Jay) aparece com um papel de destaque.
Nos Estados Unidos o filme gerou polêmica por conta do título, ‘Zach and Miri Make a Porno’, ou ‘Zach e Miri Fazem um Pornô’. Pura bobagem e hipocrisia que por aqui soa risível. ‘Pagando Bem, Que Mal Tem?’ é bem mais franco que uma novela das oito, por exemplo. E uma última dica: aguarde os créditos finais, eles guardam uma pequena surpresa.

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