quinta-feira, 17 de março de 2011

Vingança com as próprias mãos


Algumas semanas atrás escrevi neste espaço sobre ‘O Hospedeiro’ e o boom do cinema sul-coreano, que vai ganhando cada vez mais espaço mundo afora. Aqui no Brasil, quem nos fez a introdução a essa cinematografia foi Park Chan-Wook, que em 2005 arrebatou críticos e cinéfilos com o impactante ‘Oldboy’. Mesmo com a resposta positiva do público, sua produção seguinte, ‘Lady Vingança’, chega ao País somente agora, com dois anos de atraso. De todo modo, essa defasagem não tira o impacto nem o brilho do filme, que mesmo após ter seu estilo copiado por outros cineastas, permanece sendo, no mínimo, interessante.
‘Lady Vingança’ encerra uma trilogia do diretor coreano iniciada em 2002 com ‘Sympathy for Mr. Vengeance’ (prestes a ser lançado agora em DVD) e ‘Oldboy’. O tema principal da trilogia, como se pode supor, é... vingança. Em síntese, pessoas que foram submetidas a um castigo por longo período e, após os anos de reclusão, partem em busca de seus algozes. E que, para fazer sua justiça, não poupam uma gota de sangue para ser derramada.
A ‘Lady Vingança’ deste terceiro filme é Geum Ja-lee, que passou 13 anos na prisão acusada de ter seqüestrado e assassinado um garoto. Quando deixa a cadeia, começa a colocar em prática o plano bolado durante os anos de cárcere, para colocar as mãos no verdadeiro criminoso e executar sua vingança. Através de idas e vindas no tempo, o diretor vai apresentando as circunstâncias que levaram a jovem à cadeia e os detalhes de seu plano macabro e mirabolante.
Quem assistiu a ‘Oldboy’ sabe que um dos méritos de Park Chan-Wook é provocar as mais diversas emoções no espectador em questão de minutos, às vezes, segundos. Em uma mesma cena, vai-se do riso ao choque, da repulsa à compaixão. O cineasta consegue isso através de um cinema intensamente visual, cujas imagens combinam violência e ternura na mesma proporção. Com seu rosto angelical e ímpeto assassino, a protagonista é o exemplo maior disso.
Quem está acostumado a narrativas lineares, com respostas prontas, vai encontrar dificuldade para acompanhar ‘Lady Vingança’. O vaivém no tempo, o entra-e-sai de personagens sem explicações mais didáticas faz parte do jogo ao qual o cineasta gosta de submeter nós espectadores. Somos desafiados a tentar montar um quebra-cabeça, no qual algumas peças ficam escondidas para que ele nos entregue somente ao final. Todavia, o problema é justamente o mesmo de ‘Oldboy’: cria-se uma narrativa envolvente, desafiadora, mas que perde o fôlego no final. O desfecho redentor e um tanto apelativo acaba frustrando um pouco a expectativa criada durante a primeira metade do filme.
Entre momentos de brilho e decepção, o saldo de Park Chan-Wook e seu ‘Lady Vingança’ é positivo. Diferente de muitos jovens cineastas que carregam na estética e acabam caindo no vazio, o sul-coreano consegue fazer um cinema por vezes agressivo, mas, sobretudo, poético. Numa época em que o cinema parece cada vez mais pasteurizado, os ventos que sopram da Ásia nos dão um alento.

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