sábado, 12 de março de 2011

Da escrita à direção

Quem aprecia os filmes do diretor mexicano Alejandro González Iñarritu (‘Amores Brutos’, ’21 Gramas’ e ‘Babel’) sabe que deve muito ao roteirista com quem trabalhou, o também mexicano Guillermo Arriaga. É ele o responsável por amarrar com precisão as narrativas paralelas que foram as marcas registradas de suas produções. Com a parceria interrompida de maneira pouco amistosa, Arriaga decidiu trilhar seu próprio caminho, se aventurando também na direção. O resultado é ‘Vidas que se Cruzam’, que, lamentavelmente, mostra que ele ainda tem de melhorar muito para demonstrar o mesmo talento de roteirista como cineasta.
O título brasileiro já entrega que Arriaga mantém a estrutura de seus roteiros anteriores: histórias paralelas, passadas em diferentes locais e protagonizadas por personagens peculiares, que de uma maneira ou de outra acabam se entrelaçando. O filme se abre com um trailer em chamas no meio do deserto (daí o título original, ‘The Burning Plain’, ou ‘a planície em chamas’). A partir daí começam a desfilar os protagonistas e seus respectivos dramas.
Sylvia (Charlize Theron) é a gerente de um restaurante situado em um local frio e cinzento à beira do mar. Seu maior passatempo é levar diferentes homens para cama, sem estabelecer muito critério. Na fronteira com o México, Santiago (J.D. Pardo) é um jovem que tenta entender como se deu a morte do pai, queimado no trailer do início do filme junto com a amante. Para isso, procura a filha mais velha da amante, Mariana (Jeniffer Lawrence). Os encontros de seus pais, Nick (Joaquim de Almeida) e Gina (Kim Basinger) são revelados em outra subtrama. Completando a narrativa, uma jovem garota vê o pai sofrer um acidente de avião enquanto fertiliza uma plantação.
O que fez a diferença na parceria entre Arriaga e Iñarritu eram fundamentalmente dois aspectos: 1) a capacidade de articular os elementos de todas as narrativas, ainda que elas não estivessem diretamente ligadas entre si; e 2) as interpretações de seus atores, que imprimiam uma forte carga dramática e emocional a seus personagens. E ‘Vidas que se Cruzam’ peca exatamente nesses dois quesitos.
As tramas paralelas de Arriaga exigem certa paciência do espectador, já que se faz necessário primeiramente introduzi-lo no universo de seus personagens, integrá-los em seus dramas, para somente então começar a ligar os pontos. E isso se dá com uma fluidez não exatamente natural, mas pelo menos convincente. Em ‘Vidas que se Cruzam’, a impressão que se tem é de que o diretor quis fazer algo mais palatável, sem correr risco de deixar pontas soltas. Nisso, apostou em soluções óbvias, previsíveis e que privam da sensação de encantamento necessária a esse tipo de filme.
Para completar, o bom time de atores selecionado por Arriaga parecia não estar em uma fase das melhores. Charlize Theron, Kim Basinger e Joaquim de Almeida, que já mostraram talento em outras oportunidades, parecem estar em uma novela das oito. Uma pena. É a prova de que um bom roteirista não é necessariamente um diretor competente e vice-versa.

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