terça-feira, 22 de março de 2011

Conflitos da juventude



O momento promissor que vive o cinema nacional ainda não impede que, lamentavelmente, se cometam algumas injustiças com determinados filmes. Um exemplo é ‘Proibido Proibir’, obra de muitas qualidades, premiada em festivais nacionais e internacionais, mas que passou completamente despercebida no circuito comercial. Como na maioria das vezes a distribuição em DVD segue os mesmos padrões de divulgação, baseada em seu suposto potencial lucrativo, o filme parece fadado a um público ínfimo. Uma grande pena, já que se trata de mais um belíssimo exemplar do cinema urbano que vem se consolidando como uma nova e marcante etapa da produção brasileira.
‘Proibido Proibir’ é apenas o segundo longa de Jorge Duran, chileno radicado no Brasil, responsável por importantes roteiros como ‘Lúcio Flávio – O Passageiro da Agonia’ e ‘Pixote’. Seu primeiro filme como diretor já tem mais de 20 anos, ‘A Cor do seu Destino’, rodado em 1986. Ainda que soe um pouco preconceituoso, mas é de surpreender que, após esse hiato, um veterano com mais de 60 anos tenha feito uma obra que dialoga como poucas com a juventude contemporânea.
A história apresenta um triângulo amoroso formado por jovens universitários de classe média. Paulo (Caio Blat) é um estudante de medicina mulherengo, que usa drogas e não está nem aí para os idealismos típicos da juventude. Leon (Alexandre Rodrigues, de ‘Cidade de Deus’), seu melhor amigo, é negro, estuda sociologia e se dedica a um projeto social na periferia do Rio de Janeiro. Sua namorada é Letícia (Maria Flor), acadêmica de arquitetura que está no meio termo entre os dois, nem tão sonhadora, nem tão radical.
O primeiro conflito deflagrado pelo diretor é amoroso, quando Paulo se apaixona por Letícia. Essa atração é retratada com uma sensibilidade ímpar, se revelando aos poucos através de olhares, gestos e corpos. Não há necessidade de escancarar os sentimentos por meio de diálogos óbvios. Duran trata de tornar o espectador um cúmplice, compartilhando o desejo físico, a angústia por uma possível traição e a incerteza do sentimento correspondido.
Mais acentuado que o conflito amoroso é o conflito moral dos personagens. No hospital em que estagia, Paulo conhece uma senhora pobre, vítima de leucemia. Seu maior desejo é ver o filho, ameaçado de morte por policiais. O trio se dispõe a intervir e ajudar o adolescente, mas percebe que a realidade da periferia é bem mais complexa do que as boas intenções pequeno-burguesas. O choque entre os dois mundos, da classe média estudantil com a periferia abandonada, coloca os personagens em um dilema, indecisos entre a ousadia e o conformismo.
Ainda que com a temática relacionada à pobreza e à criminalidade, ‘Proibido Proibir’ tem um diferencial que é o de não enveredar pela espetacularização da favela. As tomadas apresentam um Rio de Janeiro periférico, sem cartões postais, mas também fora dos morros. Não há apelos ao sensacionalismo ou à violência gratuita, mas uma reflexão contundente pelo olhar às vezes míope da nossa juventude. Reforçado pelas ótimas interpretações dos protagonistas, é um filme a ser visto, sentido e pensado.

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